Não há eleitor que não desconfie de pesquisas de intenção de votos. Os erros, clamorosos, se acumulam a cada eleição. Para o deleite dos críticos, Ibope, Sensus, Vox Populi e Datafolha estão com a imagem novamente em xeque. Nenhum dos principais institutos conseguiu registrar as últimas reviravoltas eleitorais. E não foram poucas. No Rio Grande do Sul, dois dias antes das eleições, o Ibope previa que Germano Rigotto, com 34% das intenções de voto, iria para o segundo turno. A única dúvida recaía sobre o adversário: a deputada tucana Yeda Crusius ou o ex-governador petista Olívio Dutra. Abertas as urnas, Yeda desbancou Rigotto e saiu na frente na corrida para o Palácio Piratini. ?Surpresas são normais?, diz Carlos Augusto Montenegro, do Ibope. ?Pesquisa não é verdade absoluta.? Mesmo utilizando margens de erro cada vez maiores ? as do Ibope já foram de 1,5% e, hoje, são de 2 pontos percentuais ?, é difícil explicar a variação de 6,88 pontos. O mesmo equívoco foi verificado na Bahia. O Ibope apontava vitória fácil do governador Paulo Souto no primeiro turno. E na boca de urna, a vantagem de Souto era de 6% sobre o ex-ministro Jaques Wagner. As urnas, no entanto, deram vitória a Wagner.

 

Marcos Coimbra, do Vox Populi, caprichou no erro e pontificou sobre os cinco motivos que levariam Lula a ser reeleito no primeiro turno. Afirmava que os votos atribuídos ao petista não eram, como se imaginava, cínicos, burros, nordestinos, manipulados ou de miseráveis. Eram votos de confiança cristalizados que se manteriam em 51% do eleitorado, enquanto seus adversários não ultrapassariam os 36%. O resultado divulgado pela Justiça Eleitoral rebaixou Lula à casa dos 44,5% (48,6% dos válidos) e deu a Geraldo Alckmin cinco pontos percentuais acima do que previra Coimbra para todos os outros candidatos. Ricardo Guedes, do Sensus, chegou ao cúmulo de cravar 27% para Alckmin a dias do pleito. Entre os institutos, o Datafolha foi o único que fez um mea-culpa. ?Realmente, alguns números não bateram?, disse à DINHEIRO Mauro Paulino, diretor do instituto, referindo-se aos casos da Bahia, do Sul e do Senado. No Rio, o Datafolha dava vantagem a Jandira Feghali e quem levou a vaga ao Senado foi Francisco Dornelles. ?As pessoas dão aos índices uma importância maior do que permitem os limites da estatística?, diz Paulino. É verdade. Mas para o setor, que fatura R$ 750 milhões por ano, a fidelidade aos números é fundamental.