No início dos anos 2000, durante a primeira fase das empresas pontocom no Brasil, uma série de eventos nasceu com o objetivo de reunir empreendedores e investidores de capital de risco. Eram reuniões regadas a muita comida e bebida. Poucos negócios, efetivamente, começavam nessas celebrações etílicas. Pouco tempo depois, a bolha da internet estourou e muitas startups faliram. Mais de 15 anos depois, no entanto, o mercado brasileiro evoluiu. Há startups com bons planos de negócios e os fundos de venture capital contam com milhões de reais para investir em ideias iniciantes. Mas nem tudo mudou. “O Brasil carece de eventos que propiciam o aprendizado e a atualização do empreendedor”, diz Kelly Cordes, idealizadora da blastU, festival que acontece nos dias 16 e 17 de outubro, no Pavilhão da Bienal, em São Paulo, e que deve mudar essa escrita.

O blastU é inspirado no renomado South by Southwest (SXSW), evento de cinema, música e tecnologia que acontece anualmente em Austin. Multidões de artistas, empreendedores e curiosos de todas as áreas vão até a capital do Texas para ficar antenados com as principais tendências e ter insights para aplicar aos seus negócios ou vida pessoal. Foi na edição de 2007, por exemplo, que o Twitter foi lançado. O blastU não terá música, nem cinema, mas se define como o “primeiro festival de empreendedorismo e tecnologia do Brasil”. Ela vai juntar novos empreendedores, investidores e empresários já consagrados em um único espaço para promover relações e aperfeiçoamento profissional. “Será uma ocasião para construir pontes e gerar negócios”, afirma Kelly, que também é sócia da consultoria de comunicação Fala Branding, onde liderou o desenvolvimento da nova marca do shopping JK Iguatemi.

O time de palestrantes é o mais eclético possível (leia quadro). Contará com a presença de Mark Gainey e Michael Horvath, cofundadores do aplicativo de corrida e de ciclismo Strava, e de Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza. Regina Chamma, diretora para América Latina do Google Play, e Eric Acher, cofundador do fundo de investimentos Monashees Capital, também falarão com o público. Uma das novidades do blastU serão as mentorias. “Diversos especialistas vão abrir suas agendas para conversar e auxiliar empreendedores”, diz Maguy Etlin, cofundadora do evento. São, ao menos, 50 renomados executivos que darão dicas às startups, como Santiago Fossatti, do fundo Kaszek Ventures, Sergio Chaia, ex-CEO da Nextel, e Flavio Pripas, diretor do Cubo, o coworking do Itaú e da Redpoint eventures.

Startups que vingaram no País nos últimos anos, como Banco Neon, Fazen, Avante, Dr. Consulta, entre outras, irão relatar suas histórias e contar como conseguiram sobreviver. “Eventos como esse são uma excelente forma de melhorar as startups no Brasil”, afirma Patrick Sigrist, fundador do iFood e do fundo de investimentos Yellow Ventures. Uma dessas empresas é a Smash, desenvolvedora do aplicativo Smash Tennis, ferramenta que conecta tenistas para facilitar a busca por adversários. Ainda em seu primeiro ano de vida, a startup teve que partir para os EUA em busca de investidores. “O Brasil está em uma fase inicial desse ecossistema do empreendedorismo”, diz Fabio Flaksberg, fundador da Smash.

De acordo com estudo realizado, em 2016, pela aceleradora Startup Farm, 74% das startups brasileiras fecham após cinco anos de vida. Um dos motivos para o fim precoce das startups está relacionado com a escolha do time e dos investidores que farão parte do projeto. “É comum vermos equipes compostas por pessoas que trabalharam ou estudaram juntas e que possuem as mesmas competências. Não é o ideal”, diz Saulo Arruda, cofundador da Gama Academy, escola de capacitação de profissionais de startups e que conta com clientes como Viva Real, Buscapé e Cabify. “É melhor buscar por quem complemente as suas características”.

Para Marcus Quintella, coordenador do MBA de empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas, a falta de preparo dos profissionais é o principal motivo para a derrocada das startups. “Os gestores de startups muitas vezes não se preparam de forma adequada para lidar com o negócio”, afirma. “Eles podem ter ideias brilhantes, mas acabam encontrando dificuldades por conta da falta de planejamento da empresa.” Quintella dá um conselho para quem quer prosperar nesse mercado competitivo: não há sorte ou azar, mas trabalho e relacionamento. Uma lacuna que o blastU pretende preencher.