Fernando Galletti de Queiroz, 42 anos, diretor-presidente do frigorífico Minerva, tem um jeito reservado, quase tímido. É do tipo que pensa muito antes de emitir uma opinião, escolhe as palavras com cautela para não dar uma resposta atravessada e é avesso a qualquer tipo de exposição. Sua personalidade reflete o modo como administra a companhia, adquirida por sua família em 1992, hoje a terceira do setor no País. Dos principais frigoríficos listados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Minerva é o que tem atuação mais discreta. Enquanto, em 2009, o JBS-Friboi faturou R$ 55,2 bilhões e o Marfrig alcançou R$ 10,3 bilhões, o Minerva anotou uma receita de R$ 2,7 bilhões. 

 

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Fernando Galletti: ”Vamos fazer aquisições. Analisamos empresas que estão em recuperação judicial”

 

A rigor, trata-se de uma cifra vultosa, mas muito distante de seus competidores. E isso se deve a uma questão fundamental: tanto JBS como Marfrig receberam injeção de capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco de fomento possui 18,5% do primeiro e 13,9% do segundo. Com o dinheiro da instituição, as duas empresas saíram às compras. O Minerva, por sua vez, teve de caminhar com as próprias pernas e não conseguiu acompanhar o ritmo dos concorrentes. 

 

Agora terá de se mexer para não ser engolido pelos rivais. “Vamos fazer algumas aquisições”, diz Queiroz à DINHEIRO em uma rara entrevista. “Estamos analisando as empresas do setor que estão em recuperação judicial.” A companhia não conta com os bilhões de reais do governo nos seus planos de expansão, mas possui um caixa de R$ 505 milhões para avançar sobre a concorrência. “O Minerva teria que dobrar de tamanho em três ou quatro anos para continuar em condições de competir com as maiores empresas do setor”, diz José Vicente Ferraz, diretor da consultoria AgraFNP.

 

Embora não revele os frigoríficos que estão em sua mira, Queiroz dá algumas pistas. “A intenção é diversificar geograficamente, estar onde não temos plantas, e, claro, analisamos quais operações se adequariam ao nosso perfil estratégico”, diz. Curiosamente, a vantagem da empresa mora justamente no que a fez ficar pequena: o excesso de cautela. Atualmente, existem várias companhias em recuperação judicial.

 

“Provavelmente, o Minerva vai pagar mais barato do que JBS e Marfrig quando fizeram aquisições”, diz Ferraz, da AgraFNP. O mercado aposta que a mira do Minerva está direcionada para as plantas dos frigoríficos Independência, Mataboi e Frialto, em Mato Grosso, e do Frigol, no Pará. “Poderiam ser alternativas interessantes para o Minerva”, diz Cauê Pinheiro, analista de investimentos da corretora SLW. “O Minerva não tem unidades nesses Estados e são regiões onde há oferta de gado significativa”, diz Pinheiro. Das mais de 21 milhões de cabeças abatidas por ano no Brasil, 17% estão em Mato Grosso e 7,6% no Pará. 

 

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Hoje, o frigorífico tem nove unidades em São Paulo, Rondônia, Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, além de um curtume e sete centros de distribuição. No Exterior, a empresa possui escritórios na Rússia, Líbano, Irã, Chile e Argélia, além de uma unidade de abate no Paraguai. 

 

A expansão das linhas de produção para outros Estados é crucial no negócio do Minerva. É que o frigorífico aposta nas vendas de carne bovina in natura e também processados de bovinos, frangos e suínos para indústrias, cadeias de fast-food e supermercados. Ou seja, ao contrário de suas concorrentes, o Minerva não possui marcas para vender produtos de maior valor agregado como o Marfrig, dono da Seara, e o JBS, que tem a Swift em seu portfólio. 

 

“Não nos interessa ter uma marca para trabalhar com o consumidor final”, diz Queiroz. Na verdade, ele aposta no crescimento do consumo de carnes no País e, com isso, o Minerva deve apresentar números 25% maiores até o final do ano. “Em 2011, cresceremos 20%”, diz. “Pode ser que a partir do ano que vem o crescimento proveniente de aquisições já entre nessa conta.” 

 

Isso porque a presença em novos mercados regionais trará ganho de escala e de competitividade. “Como o preço do boi gordo pode variar dependendo da praça, será possível, então, priorizar a compra da matéria-prima em locais onde o animal estiver custando menos”, diz Ferraz, da AgraFNP. 

 

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A expansão geográfica, entretanto, não se dará apenas por meio de aquisições. Em julho, o frigorífico inaugurou a primeira planta no município de Rolim de Moura, em Rondônia. A meta inicial é abater 840 cabeças de gado por dia. Até 2011, a unidade poderá abater 1.680 animais diariamente. Apesar dos ambiciosos planos, há um ponto que preocupa o mercado: o alto nível de endividamento das empresas do setor. 

 

As dívidas do Minerva representam 4,25 vezes a geração de caixa da companhia; enquanto no caso do JBS esse indicador é de 5,6 vezes; e no do Marfrig é de quatro vezes. Desde o início do ano, as ações do Minerva valorizaram 14,9%, fechando em R$ 6,70 na quinta-feira 23. 

 

Já os papéis do JBS e do Marfrig se desvalorizaram 16,25% e 7,8%, respectivamente, fechando em R$ 7,78 e R$ 17,59 cada um. A queda no preço das ações se deve à quantidade de operações que esses frigoríficos têm nos Estados Unidos e na Europa, cujas economias não estão crescendo no mesmo ritmo da brasileira.