Os analistas europeus já não têm dúvida: as cheias de verão na Alemanha afogaram de vez o pacto de contenção de gastos na zona do euro. Em vez de limitar o déficit deste ano a 3% do PIB, como ordena o Pacto de Estabilidade e Crescimento assinado em 1997, países como Alemanha, França e Itália estão rompendo as amarras do Banco Central Europeu e reativando suas economias com gastos públicos. É o mesmo, aliás, que está fazendo a Grã-Bretanha, cujo governo estuda aderir à União Européia apenas no final deste ano. ?Não podemos aceitar recomendações da Comissão Européia que nos levem a cortar as despesas públicas em US$ 15 bilhões quando as necessidades de saúde, educação, transporte e polícia são tão evidentes?, disse Gordon Brown, o ministro das Finanças britânico. Tudo indica que o keynesianismo voltou à Europa pela porta dos fundos e está substituindo aquilo que a esquerda européia apelidou de sado-monetarismo ? o compromisso cego de cortar despesas apesar de dois anos de estagnação econômica e de um porcentual de desempregados de quase 9% nos 12 países da União Européia. Pressionados pelos eleitores, os governos querem gastar e exigem de Bruxelas mais flexibilidade.

Schroder e o Elba: assistência
às vítimas da cheia ajuda a
reativar economia
Cheia do Elba. A desculpa para mandar a austeridade às favas foi dada pelas chuvas. O chanceler alemão Gerhard Schroder aproveitou as cheias do Elba para dar uma guinada à esquerda no seu governo e recuperar alguma popularidade. ?A ajuda às vítimas das cheias levará a investimentos que terão conseqüências positivas para a economia?, disse o líder social-democrata. Carro-chefe da economia européia, a Alemanha tem convivido nos últimos anos com taxas de crescimento abaixo de 2% e um déficit público crescente, que saltou de 1,5% do PIB em 2000 para cerca de 2,7% este ano. Em janeiro passado a Comissão Européia advertiu a Alemanha de que seu déficit estava perigosamente próximo ao limite de 3% imposto pelo pacto de estabilidade de 1997, mas o governo alemão se recusou a cortar despesas. Agora vai aumentá-las. É a mesma atitude adotada pelo governo italiano, que está fazendo investimentos espetaculares de infra-estrutura ? como a construção de uma ponte entre a Sicília e o continente ? que reativarão sua economia mas devem levar o orçamento para fora da zona do euro. Mesmo os franceses, que estão com as contas em ordem, já avisaram que haverá cortes de impostos este ano e que a economia não crescerá como previsto ? uma forma elegante de dizer que será difícil atingir a meta de déficit zero em 2004, prevista pelo pacto de 1997. Diz o diário britânico The Guardian, representante da esquerda européia: ?Os planos para retornar ao balanço orçamentário na Europa em 2004 em meio a uma recessão representam um exemplo da economia do hospício?. Com nome mais solene, essa é a política econômica defendida pelo FMI para a Argentina, Uruguai e Brasil.