Saiu a conta do desastre criado no País com a paralisação dos caminhoneiros. E ela é pesada, difícil de contornar e com reflexos generalizados e de longo prazo até ser superada – o que ninguém sabe ainda quando. Na prévia do PIB de maio, mês da greve que durou uma semana, o índice encolheu cerca de 3,34%. É a maior queda já registrada em 15 anos para o período. Em todos os setores o resultado desabou. Do varejo aos serviços, passando pela indústria, ninguém ou nada passou incólume diante da escassez no fornecimento de mercadorias e insumos. Com as estradas fechadas, o abastecimento inviabilizado e a atividade produtiva praticamente parada, o País chegou perto do colapso.

É algo para se refletir nesse momento diante, principalmente, do apoio que o movimento inicialmente recebeu. Mesmo lideranças empresariais chegaram a expor alguma simpatia aos protestos – talvez sem saber como contabilizaria mais adiante enormes prejuízos decorrentes do movimento. A população brasileira solidária só descobriu depois — com as longas filas nos postos, supermercados e a falta de transporte — o quão cara é a ideia de travar a mobilidade em nome de uma luta por direitos até certo ponto discutíveis. Não se pode brincar com a saúde de nossa ainda frágil economia. O trabalho de retomada do desenvolvimento deve ser de todos, comprometidos na mesma causa.

A greve, na sua real dimensão, foi um atentado, um despropósito que poderia ter sido contornado através das negociações. Erraram os vários lados envolvidos no processo. Autoridades demoraram a perceber o perigo da situação. Caminhoneiros deixaram a interlocução difusa, por vários representantes e, ao final e ao cabo, nenhum conseguiu responder efetivamente pela categoria. Oportunistas tomaram conta. É preciso aprender e muito com a experiência. Evitar a qualquer custo repeti-la e punir exemplarmente seus articuladores. Foi um mal sinal, há alguns dias, o Congresso decidir perdoar as multas de quem atravancou o fluxo País afora.

A ideia de que as leis não estão aí para serem cumpridas e que os alertas e ameaças não devem ser levados a sério estimula os baderneiros. Nenhuma nação engajada em processos de recuperação sobrevive a essas práticas. Agora, voltam ao radar aumentos de impostos e de preços para equilibrar a arrecadação. Foi parar no bolso do consumidor final o preço da brincadeira. Está nas bombas de combustíveis, no gasto com alimentos, remédios e quetais. A inflação também sofrerá impacto e ele já está a caminho ao se considerar as estimativas de analistas que falam em um número próximo a 5% para o próximo ano, portanto acima da meta. Não valeu a pena. Perderam todos.

(Nota publicada na Edição 1079 da Revista Dinheiro)