UMA POLÊMICA ESTÁ PRESTES A NASCER nos fundos de investimentos. A questão é a mesma que envolveu a participação de especuladores nas aberturas de capital no ano passado. Os flippers, investidores que vendem as ações estreantes logo que a campainha da Bolsa é acionada, entram para ganhar apenas com os suspiros de alta no primeiro dia de negociação. Aqueles que foram identificados atuando dessa maneira receberam o cartão vermelho de outras empresas que preparavam seus IPOs. É esse mesmo perfil de investidor que os gestores dos fundos querem ver a quilômetros de distância. Pouco interessados em estratégias e sem horizonte de longo prazo, desejam apenas a rápida multiplicação do seu dinheiro. Eles estão errados? Para muitos fundos, sim e, por isso, eles querem ter o direito de escolher seus cotistas.

A questão não é simples e surge no momento em que o saldo de todos os tipos de fundos está R$ 24,9 bilhões no vermelho este ano. O problema não são os pedidos de resgates, mas como eles estão ocorrendo. Alguns investidores olham o retorno negativo do fundo em um mês, se apavoram e solicitam a liquidação da sua cota. Esse mesmo investidor vai para outra gestora e pouco tempo depois tira seu dinheiro pelo mesmo motivo.

De pulo em pulo, ele joga a estratégia do fundo por água abaixo ao obrigar o gestor a desfazer suas posições. A chiadeira contra esse tipo de investidor ganhou eco nos fundos de ações e nos multimercados, os mais abatidos com a onda de saques de R$ 9,1 bilhões e R$ 33,2 bilhões, respectivamente, segundo o último balanço divulgado pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), com dados válidos até 10 de setembro. Fica claro que, para os “flippers dos fundos”, o que menos importa é a visão de longo prazo.

Proibir a entrada de maus vizinhos é tudo o que os gestores querem para o condomínio que administram. “É importante fazer uma seleção de quem pode fazer parte do seu clube”, diz Marcos Duarte, sócio da Pólo Capital. “É o mesmo que os bancos de investimento fazem nos IPOs.” Até o fechamento desta edição, a Anbid não se pronunciou sobre essa possibilidade. De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários, a bola que está sendo levantada já estufou as redes. É permitido ao gestor elaborar o seu produto e colocar as restrições de público- alvo no prospecto. “Se eles quiserem montar um fundo só para palmeirenses com aplicação inicial de R$ 10 milhões, os corintianos podem ter o dinheiro mas não vão participar. Podem reclamar que não têm vez”, diz Luiz Américo Ramos, superintendente interino de relações com investidores institucionais da CVM.

Enquadrar os investidores em estratégias de longo prazo pode ser, no entanto, uma tarefa difícil para boa parte dos fundos brasileiros. Isso porque nem todos podem escolher quem serão os seus sócios. A maneira mais razoável para afugentar esses inquilinos indesejados é aumentar os prazos de resgate das cotas. Com um tempo mais longo para liquidar a posição de um cotista, os gestores não têm que se apressar para vender um ativo e levantar seu escudo da noite para o dia. Mas isso não dá total imunidade, como ficou claro nesses últimos meses. Um dos mais cobiçados do mercado, o fundo Mauá Multimercado, do ex-Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, chegou a ter um patrimônio de R$ 1,5 bilhão. Apesar de o resgate ser de 90 dias, o fundo foi tragado pelos saques e hoje tem um patrimônio de R$ 212,8 milhões.