O relógio marcava 19 horas da quinta-feira, 4 de outubro, quando o empresário e ex-militar Lima Santos atravessou o lobby do hotel Emiliano, localizado na luxuosa rua Oscar Freire, em São Paulo. Empreendedores de diferentes startups estavam amontoados nos sofás e poltronas. Uma dúzia de pessoas estava à espera de um ilustre investidor desde às 15 horas. “Mais cinco minutinhos. Ele já está chegando”, dizia Santos para uma empreendedora que, educadamente, ensaiava uma despedida após passar a tarde inteira no local. Por “ele”, Santos se referia ao ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, seu novo sócio no fundo de venture capital 5Xmais Holding Business. Mais famoso por seus dribles desconcertantes no campo de futebol do que por sua aptidão ao mercado de investimentos, o ex-craque do Barcelona, que foi aplaudido de pé por torcedores do rival Real Madrid ao marcar dois gols em pleno Santiago Bernabéu, em 2005, agora arrancava bocejos de cansaço de marcadores vestindo camisas e blazers e que o aguardavam para mostrar o potencial de seus negócios.

“O Ronaldinho gosta de ouvir os projetos. Não é só um garoto-propaganda”, diz Santos à DINHEIRO, ao explicar por que uma empresa com um portfólio com mais de 100 startups no Brasil, Estados Unidos e Europa, agora tinha R10 em seu time de investidores. Criada em 2014 por Santos e Roberto Gomes, ex-jogador de futebol, a 5Xmais realiza, na maioria das vezes, aportes de seed money que variam de US$ 30 mil até US$ 150 mil. “Pegamos as startups na fase inicial, mas quando ela já tem um modelo validado e clientes”, diz Santos. “É mais fácil crescer de um para 10 do que de 10 para 100.” Isso não é uma regra. Em alguns casos, como o da startup Fazenda Rentável, que faz o gerenciamento administrativo de fazendas, por exemplo, o fundo investiu US$ 2 milhões na operação.

Apresentado ao empreendimento por Alex Dias, ex-atacante com passagens por clubes como São Paulo, Fluminense e Vasco, Ronaldinho se tornou um investidor no começo de agosto, quando foi divulgado que o craque liderou um grupo de investidores que realizou um aporte de US$ 75 milhões na 5Xmais. O dinheiro vai ajudar na meta de ter 2 mil investimentos ativos em startups no mundo até 2022. “Os fundos buscam recurso para poder investir”, diz Marcus Quintella, professor do curso de empreendedorismo da Fundação Getulio Vargas. “Se o dinheiro vai ter grife ou não, não faz diferença.” O que deve ser diferente é o nome do fundo. Acostumado a usar a camisa 10, o craque convenceu Santos a considerar a mudança do nome do fundo para 10Xmais. “Eu fiquei meio assim…”, diz o empresário. Segundo ele, o nome do fundo tinha relação com a meta de valorizar cinco vezes uma empresa antes de realizar a saída do investimento. “Vamos ter que alongar nossa tese.”

Lima Santos, CEO da 5xmais: “O Ronaldinho gosta de ouvir os projetos. Não é só um garoto-propaganda”

O pentacampeão mundial com a Seleção Brasileira também adiciona outro elemento ao negócio: a exposição de marca. Na estratégia da 5Xmais, Ronaldinho será o embaixador global do fundo de investimentos e tem o objetivo de atrair mais startups ao negócio. “Ele consegue abrir portas e cria muita receita indireta pela associação de sua imagem”, diz Pedro Daniel, gerente sênior de consultoria para o mercado esportivo da EY. “Ele não vai participar de questões operacionais.” Não mesmo. No dia 4 de outubro, por exemplo, após horas de espera pelo ídolo, o empresário José Rangel, fundador da Mooba, startup especializada em serviços de cashback, teve que se contentar em conversar com Assis, irmão e empresário de R10. De acordo com a assessoria da 5Xmais, o ex-jogador só teria aparecido no local por volta das 20h30, quando teria se reunido com os poucos empreendedores que ainda o aguardavam.

O episódio registrado no começo de outubro mostra que associar uma empresa a um atleta nem sempre pode render o esperado. O caso do jogador português Cristiano Ronaldo é um exemplo. Acusado por ter estuprado a ex-modelo Kathryn Mayorga, em 2009, o atacante da Juventus, da Itália, está enfrentando uma briga judicial conturbada. Segundo o jornal britânico The Sun, o atleta pode perder até
£ 1 bilhão em patrocínios se as marcas decidirem não o utilizarem mais como garoto-propaganda. Uma dessas companhias é a desenvolvedora americana de jogos de videogame EA Sports. A empresa usa a imagem do craque para estampar a capa do jogo FIFA. “Esperamos que nossos atletas e embaixadores se comportem de maneira consistente com nossos valores”, disse um porta-voz da empresa.

O próprio Ronaldinho, aliás, se envolveu em uma polêmica recente. Após apoiar publicamente o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), o Barcelona, no qual o ex-ídolo é embaixador, decidiu se pronunciar. Segundo Josep Vives, porta-voz do clube catalão, a agremiação respeita a “liberdade de expressão de todo mundo”, mas que “os valores de Bolsonaro não correspondem aos do clube” e, por isso, “promete observar atentamente a evolução do caso para tomar decisões que considere convenientes”. “Ele nunca entendeu o que é ser embaixador do Barcelona”, afirma Amir Somoggi, sócio da consultoria de marketing esportivo Sport Value. “Ele poderia apoiar um candidato A ou B, mas nunca como embaixador.” Se a contratação de Ronaldinho será um sucesso dos tempos de Barcelona, ainda não se sabe. Seus primeiros chutes trocando as chuteiras pelos sapatos, porém, parecem ter passado bem longe do gol.