Das poucas coisas esclarecedoras que o período eleitoral nos proporcionou foi a nomeação antecipada do ultraliberal Paulo Guedes para ser o superministro da Economia de Jair Bolsonaro. Guedes, que vai comandar a Fazenda e o Planejamento, vem divulgando nomes técnicos e qualificados para a sua equipe, o que agrada o mercado financeiro. A exemplo de Michel Temer, Bolsonaro quer ter um “dream team” na economia para tirar o País do fundo do poço fiscal.

As contas públicas estão no vermelho há cinco anos. O rombo supera os R$ 100 bilhões ao ano. O crescimento da dívida pública é insustentável e o País torra dinheiro pagando juros para rolar esse “papagaio”. É um dinheiro que poderia ser utilizado para investimentos em infraestrutura e programas sociais.

Na quinta-feira 15, em pleno feriado da Proclamação da República, o superministro Guedes confirmou a escolha do economista Roberto Campos Neto para a presidência do Banco Central (BC). O atual comandante do BC, Ilan Goldfajn, infelizmente não aceitou. Lamento a sua saída por conta do seu ótimo desempenho no combate a inflação. Herdou um IPCA, índice oficial, acima de 10% e vai entregá-lo na meta. Reduziu os juros básicos do patamar de 14% para 6,5% ao ano, sem nenhum populismo. Até poderia, na minha avaliação, ter sido um pouco mais ousado.

Campos Neto tem um perfil técnico, a exemplo de Ilan (o atual presidente é mais conhecido no mercado pelo seu primeiro nome). É diretor do Santander (Ilan era do Itaú), mas ao contrário do seu antecessor, não tem experiência no setor público. Goldfajn havia sido diretor do BC na gestão de Arminio Fraga, no governo Fernando Henrique Cardoso. Neto do ex-ministro Roberto Campos (1917-2001), o futuro comandante do BC pode se beneficiar da aprovação da independência formal pelo Congresso Nacional.

No Tesouro Nacional, a novidade é que não haverá novidade. O atual secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, vai permanecer no cargo. Trata-se de um profissional sério e competente, e que defende o ajuste fiscal com unhas e dentes. Mansueto, como é conhecido, foi um dos idealizadores da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Teto dos Gastos Públicos no governo Temer. A regra congela em termos reais (descontada a inflação) o orçamento ao longo de 10 anos, renovável por mais 10 anos. Eu, particularmente, defendo essa PEC, mas isso é tema para outro artigo.

Para comandar o BNDES, o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy foi o nome escolhido. O seu desempenho ruim na Fazenda, com o País mergulhando numa recessão, é avaliado pelo mercado como culpa da ex-presidente Dilma Rousseff, que o deixou numa posição absolutamente desconfortável no governo. Levy também foi secretário do Tesouro Nacional no governo Lula.

O termo “dream team” da economia foi usado pelo mercado para definir a equipe de Temer. Henrique Meirelles, que havia sido presidente do BC no governo Lula, era o ministro da Fazenda, com Pedro Parente na Petrobras, Maria Silvia Bastos Marques no BNDES, Dyogo de Oliveira no Planejamento e Ilan no BC. A equipe de estrelas de Temer, no entanto, apresentou resultados apenas modestos, principalmente na área fiscal. O mercado aguarda ansiosamente os próximos nomes da equipe econômica do governo Bolsonaro. Do ponto de vista técnico, está sendo montado um time qualificado. Tomara que esse “dream team” consiga entrar em campo unido para virar o jogo das contas públicas. Por enquanto, o País está perdendo por 7 a 1.