Junte o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Postal em um só banco. Agora imagine que esse mastodonte, responsável pela maior parte dos serviços bancários de varejo, e também pelo financiamento das exportações e sustentáculo financeiro da expansão internacional das empresas brasileiras, anunciasse ter problemas. Parece assustador. E é mesmo. Isso está acontecendo agora, felizmente, longe do Brasil. O Deutsche Bank, maior banco alemão, com € 1,59 trilhão (US$ 1,7 trilhão ou R$ 5,2 trilhões) em ativos no fim de 2016, anunciou, na segunda-feira 8, que está, pela quarta vez desde a crise, buscando dinheiro novo no mercado.

O escândalo do subprime, em 2008, nos Estados Unidos, custou caro ao Deutsche. Além dos bilhões perdidos, em 2015, o banco amargou uma multa de US$ 7,2 bilhões por fraude e irregularidades no mercado de títulos hipotecários. Desde então, os alemães haviam acessado os mercados de capitais em 2010, em 2013 e em 2014 captando um total de US$ 24 bilhões. Em 2015, o inglês John Cryan assumiu a presidência prometendo mudar as coisas: cortar custos, ganhar eficiência, melhorar processos e, principalmente, não pedir mais dinheiro aos acionistas. Por isso, o anúncio de que o banco precisaria de mais uma ajudinha repercutiu mal nos mercados. As ações desabaram e fecharam com baixa de 7,9% na segunda-feira 6. Isso comprometeu a breve recuperação das cotações, que havia se iniciado em setembro passado quando Cryan assumiu seu posto (observe o gráfico).

DIN1009-deutsche2Na segunda-feira, Cryan concedeu uma entrevista em que detalhou os novos planos, ao mesmo tempo em que anunciava um prejuízo de € 1,4 bilhão (R$ 6,18 bilhões). A notícia ruim para os acionistas, que precisariam injetar mais recursos no banco, foi acompanhada de outra pior: os dividendos estão suspensos até 2018. No entanto, o que desagradou mesmo o mercado foi o fato de que as propostas de mudança deram uma guinada de 180 graus. Na primeira versão da reestruturação, Cryan havia sugerido vender o Banco Postal, comprado pelo equivalente a R$ 19 bilhões em 2010 e ainda em processo de fusão com o Deutsche.

“Ao comprar o Banco Postal, o Deutsche assumiu o pior do pior entre os bancos alemães”, disse o gestor de fundos Hans Ulrich Jost à Bloomberg. O Deutsche ainda não havia acabado de absorver as atividades do centenário captador de poupança dos alemães, que vem perdendo competitividade diante de outros investimentos, quando Cryan anunciou a venda, no ano passado. Logo depois, voltou atrás. O Deutsche também anunciou que pretende ampliar suas atividades de banco de atacado e de investimentos nos Estados Unidos – sempre é bom lembrar, a mesma praça em que ocorreram as malfeitorias do subprime.

A crise do Deutsche terá implicações por toda a Europa. A hipótese de o banco quebrar é considerada remota. “O Deutsche é o único banco que apoia as empresas alemãs em sua expansão internacional e exportação é algo essencial para manter a economia germânica funcionando”, diz o analista alemão Marcel Fratzscher, presidente do instituto de estudos DIW Berlin. Ou seja, apesar das declarações públicas de que não vão usar dinheiro dos contribuintes, é pouco provável que o governo Merkel deixe o maior banco alemão sucumbir, especialmente em um ano de eleição como este. No entanto, em uma economia europeia fortemente integrada e com os bancos atuando invariavelmente em conjunto, uma redução de marcha do Deutsche deve comprometer ainda mais a já mirrada recuperação econômica.