Ouvir uma frase virou rotina na vida do engenheiro Richard Jean Marie Dubois, 50 anos, diretor-presidente da RNGD Consultoria de Negócios: “Vocês estão querendo abraçar o mundo.” A reação das pessoas reflete a voracidade com que o empresário paulistano conquistou espaço em Brasília nos últimos tempos ao assumir a gestão do Estádio Mané Garrincha, do Ginásio de Esportes Nilson Nelson e do Parque Aquático Claudio Coutinho, além de vencer a concessão da Torre de TV Digital. Venceu a parceria público-privada (PPP) para reconstruir o Autódromo Internacional Nelson Piquet, mas foi cancelada governo do Distrito Federal.

O apetite comercial do executivo, de fato, parece não ter fim. Com experiência de dez anos em projetos de concessão do poder público, Dubois está na disputa pela gestão do aeroporto executivo, do metrô e da rodoviária, todos na capital federal, além da concessão do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, considerado por ele a menina dos olhos. “Tem capital financeiro sobrando (nos bancos), tem capital humano (no mercado), não tem concorrência (os principais players foram afetados pela Operação Lava-Jato). Vamos avançar sem fazer nenhuma loucura ou insensatez”, diz ele à DINHEIRO.

A empresa Arena BSB, na qual Dubois é CEO, foi criada para gerenciar, modernizar e desenvolver economicamente o complexo esportivo que tem o Mané Garrincha como principal atração. O investimento inicial foi de R$ 22 milhões para ajustes de infraestrutura e pequenas obras para dar ao local funcionalidade maior a outros eventos. No caso do parque aquático, o foco será na manutenção. Já o ginásio Nilson Nelson ainda tem destino indefinido. Projetado no fim dos anos 1960, não está adequado à realidade de 2020 e pode até ser demolido. “Fechamos contrato por três anos para sediar o Mundial de Vôlei. Funciona? Funciona no ‘jeitinho’. Mas gostamos da coisa bem feita e resolvida”, afirma o executivo, ao revelar investimento de R$ 100 milhões para a construção de outro ginásio. Segundo ele, projeto deve ficar pronto no segundo semestre.

BOULEVARD O contrato de 35 anos prevê benfeitorias no entorno do Estádio Mané Garrincha, como a construção de um boulevard de lazer, compras e serviços, que incluirá o segundo maior complexo de cinemas do Brasil, com 16 salas, em área construída de 100 mil metros quadrados. Será o investimento mais pesado: inicialmente, R$ 500 milhões. O Banco Fator será o responsável pela estruturação financeira para captação de R$ 350 milhões – o restante virá de acionistas e parceiros da Arena BSB. “Queremos torná-lo ponto de encontro, para darmos essa experiência de centro de cidade que Brasília não tem”, diz. A previsão é que as obras comecem até o fim do ano.

A concessão da Torre de TV Digital de Brasília aguarda trâmites burocráticos com a Terracap (Agência de Desenvolvimento) para a assinatura do contrato válido por 20 anos. A cessão do espaço deverá render aos cofres públicos R$ 1,3 milhão por ano, além da economia com a manutenção. Mas o executivo estuda criar ali uma área de eventos permanente, aproveitando o fato de a torre estar localizada em um dos pontos mais altos da capital, com paisagem privilegiada.

PONTO DE ENCONTRO: Concessão do complexo esportivo inclui a construção de boulevard no entorno do Estádio Mané Garrincha. Restaurantes, lojas e 16 salas de cinema serão algumas das atrações do local. (Crédito:Divulgação)

Outra aposta é o Aeroporto Executivo de Brasília. A área está sob concessão emergencial da Infraero, mas o empresário acredita que a iniciativa privada pode fazer uma operação melhor. Proposta de PPP tramita há quase dois anos e o investimento inicial seria de R$ 60 milhões, além dos R$ 200 milhões que ele planeja aplicar em expansão imobiliária no entorno. Exploração comercial garantiria a viabilidade para outras obras no aeroporto, com a construção de hangares, o alargamento da pista e a operação de voos noturnos. No campo da mobilidade outra investida é na rodoviária da cidade. Um plano de estudos técnicos para concessão da rodoviária do Plano Piloto e do metrô, com foco na redução de custo de operação para o governo e na melhoria da qualidade para o usuário, já está com o poder público. Não há prazo para definição das propostas.

Mas o verdadeiro xodó de Dubois está em outra cidade. Seu maior investimento está na licitação do Maracanã. A nova concessionária deve ser conhecida em maio. “É o estádio de futebol mais famoso do mundo. Merece ser tratado com muito amor e carinho. E tem potencial de negócios muito maior do que só o futebol.” Pelo apetite, o controle do Maracanã pode ser o ponto inicial para o “rei” de Brasília também ganhar espaço no restante do País.