Olhando apenas para o dólar, abril de 2018 pode ser considerado um mês de crise interna ou de turbulência das bravas no mercado internacional. A alta de 5,9% nas cotações da moeda americana sobre o real é comparável a valorizações como os 6,75% de maio de 2002, quando o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva começou a aterrorizar o mercado. Considerando-se um período mais longo, desde o dia 26 de janeiro, data de condenação do ex-presidente Lula no Supremo Tribunal Federal (STF), a alta acumulada é de 11,4%, percentual suficiente para alterar as projeções das empresas (leia mais à página 28). No entanto, nada no noticiário doméstico justifica uma oscilação tão abrupta da moeda americana. Cabem, então, duas perguntas. Por que o dólar subiu tanto assim? E como ganhar com essa tendência de alta da moeda americana?

Os especialistas que conversaram com DINHEIRO são unânimes em afirmar que o principal motivo da alta foi o cenário internacional. Um estudo dos economistas Samuel Pessôa e Lívio Ribeiro, da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, indica que a alta do dólar foi provocada principalmente pela redução da diferença entre os juros no Brasil e nos Estados Unidos. Esse fenômeno não se restringe ao Brasil. Enquanto o real perdia 11,4% de seu valor, o peso argentino se depreciou em 14%, a lira turca caiu 12,6% e o rublo recuou 12,2%. “As moedas de países desenvolvidos, como o euro e a libra esterlina, quase não oscilaram, mas o câmbio perdeu muito em economias menos estáveis”, diz Ernesto Leme, diretor da gestora de recursos Claritas Investimentos.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve: mercado espera novas altas de juros nos Estados Unidos (Crédito:AFP Photo/Saul Loeb)

O que vem justificando esse fenômeno global é uma perspectiva de elevação dos juros nos Estados Unidos. No mercado futuro de juros, os títulos do Tesouro americano com vencimento em 2028 indicam juros de 3,1% ao ano, e os prognósticos são de que esse percentual seja atingido já em meados do ano que vem. Bill Gross, um dos gestores de renda fixa mais conhecidos dos Estados Unidos e sócio da gestora americana Janus Henderson, que administra US$ 370 bilhões (R$ 1,3 trilhão), disse, em uma entrevista na quinta-feira 3, que espera que as taxas permaneçam nesse patamar por um bom tempo. A perspectiva de acirramento da disputa comercial entre Estados Unidos e China deverá elevar a inflação americana, obrigando Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), a elevar ainda mais os juros.

Com isso, a diferença entre as taxas brasileiras e americanas deve continuar a cair. Leme, da Claritas, faz uma conta simples. “Em 2016, antes de a Selic começar a cair, os juros americanos eram de 1,5% ao ano e os brasileiros eram de 14%, mas hoje essa diferença despencou”, diz ele. “Os juros americanos, no mercado futuro, são de 3% ao ano e os brasileiros de 6,5%.” Assim, um dos principais estímulos para os investidores, o diferencial de taxas de juros, perdeu boa parte de sua força. Como lucrar com esse movimento? Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho do Brasil, avalia que o cenário não é para amadores. “O dólar subiu muito em pouco tempo, o que deve abrir espaço para uma realização de lucros”, diz ele. “Além disso, como o cenário eleitoral está muito incerto, sem um candidato definido liderando as pesquisas, o câmbio deve continuar volátil.”

Por isso, sua recomendação é que só quem já está exposto a variações cambiais e precisa de proteção deve apostar na moeda americana. Leme, da Claritas, segue a mesma linha. Pelas contas da gestora, o dólar não deverá superar de forma consistente os R$ 3,56 que atingiu no começo de maio e, portanto, não há muito espaço para valorização. “Nossa recomendação é que a moeda americana seja apenas para diversificar o portfólio”, diz ele. Com uma ressalva: o investidor deve preferir alternativas de renda fixa ou de renda variável denominados em dólar no mercado internacional. “Assim, além de ganhar com uma eventual alta do câmbio, também será possível ganhar juros nos papéis de renda fixa, ou dividendos com as ações.”