A inflação deixou de ser o principal entrave à economia brasileira há muito tempo. No entanto, esse problema não deixou de existir. Os investidores que quiserem preservar o poder de compra de seu patrimônio no longo prazo têm de incluir alguma proteção contra a desvalorização da moeda em sua estratégia. Pensando nisso, bancos de investimento, corretoras e o próprio governo estão, aos poucos, tirando das sombras a velha correção monetária. A face mais visível desse fenômeno é o aumento das emissões de títulos privados de longo prazo corrigidos por índices de inflação, além do lançamento de diversos fundos de investimento que incluem esses papéis. 

 

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Lembi, da M2: títulos com correção monetária são uma boa alternativa de 
diversificação para o investidor

 

Entre janeiro e agosto de 2010, as empresas abertas emitiram R$ 6,2 bilhões em títulos corrigidos pela inflação, metade do total. Em 2009 as emissões haviam sido de apenas R$ 743 milhões, ou 7% dos lançamentos. Neste ano, só a Rota das Bandeiras, empresa do grupo Odebrecht, captou R$ 1,1 bilhão em julho com debêntures que pagam inflação mais 9,57% ao ano. Em setembro, a construtora Tecnisa captou R$ 150 milhões pagando IPCA mais 9,65% ao ano.

 

É bom negócio? Supondo-se uma inflação média de 4,5% e estimando-se que os juros de mercado permanecerão ao redor de 10,75%, as debêntures da Tecnisa vão render, sem considerar a mordida do Leão, 14,5% ao ano, o que representa uma rentabilidade de cerca de 130% dos juros de mercado. “Não há condições tão boas em outro lugar do mundo”, afirma o consultor e investidor Fábio Guelfi, que investe regularmente nesses papéis. “O risco de crédito é baixo e eles são  uma boa opção para garantir a aposentadoria”, diz. 

 

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Fábio Guelfi: risco de crédito é baixo e papéis são ótimos para a aposentadoria 

 

Antes de vender tudo e investir nesses papéis, porém, é preciso ter em mente que os investimentos corrigidos pela inflação têm características bastante próprias. A primeira é que essas aplicações devem representar uma parte do patrimônio. “Os títulos atrelados à inflação são uma forma de diversificação interessante, mas não devem receber todo o dinheiro do investidor”, afirma Bruno Lembi, sócio da M2 Investimentos.

 

A rentabilidade é boa e garantida, mas esses títulos são pouco negociados, por isso o investidor tem de pensar em comprar hoje e esperar o vencimento daqui a alguns anos. “A liquidez é muito baixa e, se o investidor precisar vender os papéis antes da hora, é quase certo que a venda vai ocorrer em condições desfavoráveis”, diz Lembi. 

 

Além disso, são papéis para quem tem muito dinheiro. Esses títulos destinam-se a investidores qualificados, que possuem um mínimo de 

R$ 300 mil para aplicar de uma só vez. Uma alternativa um pouco mais popular são os fundos de investimento com correção monetária. Os lançamentos mais recentes têm suas carteiras formadas por títulos imobiliários corrigidos pela inflação.

 

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Franco, do Santander: fundos são uma alternativa de investimento mais democrática  

 

O RB Capital II Fundo de Investimento Imobiliário é um exemplo. Lançado em setembro, o fundo vai captar R$ 190 milhões e a rentabilidade esperada corresponde a 8,88% ao ano mais IPCA. “A vantagem para a pessoa física é que os gestores do fundo vão saber melhor a hora de comprar e a de vender os títulos”, diz Edson Franco, superintendente de investimentos do Santander. A aplicação mínima dos fundos mais sofisticados começa em R$ 50 mil.

 

Quem tem pouco dinheiro pode optar pela alternativa mais popular, as aplicações no Tesouro Direto, em que é possível comprar pela internet papéis públicos corrigidos pelo IPCA e que vêm pagando juros ao redor de 6% ao ano acima da inflação. Na ponta do lápis, essa taxa representaria algo como 10,5% ao ano, um percentual comparável ao dos juros de mercado. 

 

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Não é o melhor negócio para os investidores mais abonados, mas a vantagem aqui é a segurança. O custo baixo de aquisição – taxa de custódia de 0,4% no ano da aquisição e 0,3% nos anos seguintes, mais a corretagem – torna o Tesouro Direto uma alternativa válida para a diversificação da carteira, diz o consultor financeiro Gustavo Cerbasi. “A rentabilidade desses papéis é maior do que a da maioria dos fundos de renda fixa disponíveis no varejo para o pequeno investidor”, afirma o consultor.