A aposentaria dos LPs foi decretada quando a indústria fonográfica estabeleceu o Compact Disc (CD) como padrão de mercado, ainda na década de 1980. A era do disco a laser, porém, foi menos longeva do que se supunha. Desde 2011, quando serviços de streaming de música como o Spotify começaram a se popularizar, a venda de CDs entrou em queda livre. Até que, ano passado, pela primeira vez desde 1986, foram vendidos mais vinis do que Compact Discs, segundo a Recording Industry Association of America (RIAA). E assim como o LP, esse fenômeno tem dois lados. Um toca a sensibilidade de quem valoriza o prazer da audição. Por muito tempo, o vinil ficou restrito à condição de artigo exclusivo para colecionadores. Custava caro e era difícil de achar, devido às tiragens limitadas. Redescoberto por uma geração que não quer ouvir música apenas em arquivos digitais (que comprimem os dados e eliminam boa parte da qualidade de uma gravação), o vinil virou objeto de desejo. E aí entra o outro lado: o negócio. A venda de vinis irá superar a marca de US$ 1 bilhão ainda este ano, segundo a revista americana Billboard, responsável pelas principais paradas de sucessos do mundo. E só não será maior por um motivo: a capacidade de produção global é de 160 milhões de álbuns por ano, mas a demanda está estimada em 400 milhões de unidades.

Essa procura se deve a uma mudança no perfil do consumidor. Até pouco tempo, quem preferia vinil tinha clara preferência por gêneros como rock, jazz e música clássica. Hoje, o mercado é muito mais diverso, bem como os títulos prensados em vinil. O cantor inglês Harry Styles e os americanos Kendrick Lamar e Billie Eilish estão entre os mais vendidos de 2020. Todos de música pop.

Divulgação ALTA DEMANDACom a pandemia, a procura pelos vinis aumentou e as fábricas têm dificuldade em atender os pedidos. No Brasil, o clube de assinaturas Noize triplicou sua base de assinantes. (Crédito:Divulgação)

A onda do vinil gerou novos negócios, caso do clube de assinaturas brasileiro Noize Record Club. O projeto começou em 2014 como uma revista e incorporou a entrega de discos. Com a pandemia, o número de assinantes triplicou. A grande sacada é fazer a curadoria dos títulos mesclando clássicos e novidades. “São sugestões de relevância e documentação para a posteridade”, disse Ariel Fagundes, editor do clube, que já lançou LPs de Tim Maia, Elza Soares, Gal Costa e Céu. O disco deste mês é Drama, de Rodrigo Amarante. As edições, exclusivas, são em vinis coloridos. A assinatura custa R$ 85, e não inclui o frete.