O mercado mostra-se animado com a promessa de um choque liberal na gestão Bolsonaro comandado pelo guru Paulo Guedes e sua equipe tecnicamente qualificada para dar respostas aos desafios que permitam ao País crescer de forma sustentável (e responsável). Até a terça-feira 15, a Bolsa brasileira acumulava uma expressiva alta de 7,5% no ano, contrariando a tendência de queda no exterior puxada pelo Brexit. O Ibovespa chegou ao recorde histórico de 94,4 mil pontos. O dólar caiu à casa de R$ 3,70. “A bolsa de valores fecha hoje com mais um novo índice positivo histórico! Estamos no décimo quarto dia de governo e ainda temos muito a desfazer e mais ainda a fazer! Vamos juntos resgatar o Brasil aos olhos do brasileiro e do mundo!”, postou Jair Bolsonaro em sua conta no Twitter.

Compartilhar otimismo em relação ao futuro do País faz parte das atribuições presidenciais – e qualquer um que esteja no comando da nação deve se vangloriar quando obtém resultados que comprovem a confiança do mercado. O problema é que até agora o governo pouco fez que justificasse tamanha euforia. Apesar da sabida urgência em aprovar reformas, ainda não foi apresentado o projeto do Executivo para a Previdência. O mesmo vale para as privatizações e a simplificação tributária, essenciais para o equilíbrio das contas públicas. Na segunda-feira 21, o presidente viaja à Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Irá acompanhado dos ministros Paulo Guedes e Sergio Moro, além do chanceler Ernesto Araújo. A expectativa da comunidade internacional é grande em relação ao discurso de Bolsonaro, que tem defendido uma postura “antiglobal” no comércio exterior – outro tema essencial para o País.

Enquanto o capitão da reserva enfrenta seu primeiro teste internacional na posição de chefe de Estado, a cadeira presidencial será ocupada pelo general Hamilton Mourão, algo que não ocorre desde o fim do regime militar, em 1985. E o poder das Forças Armadas no atual governo vai além do Palácio do Planalto. Posições-chave para a economia foram confiadas a militares. Os almirantes Bento Costa de Albuquerque Junior e Eduardo Leal Ferreira ocupam, respectivamente, o ministério das Minas e Energia e a presidência do conselho da Petrobras. Tenente-brigadeiro do ar, Antonio Fransciscangelis Neto é o novo secretário de Planejamento.

Também da Força Aérea, o tenente-coronel da reserva Marcos Pontes, o popular astronauta brasileiro, foi empossado ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Tarcísio de Freitas, capitão do Exército, responde pelo ministério da Infraestrutura. É verdade que nenhuma dessas pastas tem tanto impacto direto sobre a economia quanto o superministério confiado ao civil Paulo Guedes. Mesmo assim, os oficiais empossados no primeiro escalão precisam demonstrar que, além de suas patentes, possuem capacidade técnica para gerir as áreas estratégicas sob sua responsabilidade. Só se o fizerem a atual euforia do mercado será de longa duração. O dinheiro, evidentemente, não veste farda.

(Nota publicada na Edição 1104 da Revista Dinheiro)