A executiva Paula Paschoal, diretora-geral da empresa de pagamentos eletrônicos PayPal no Brasil, tem horror de usar papel moeda. Primeiro, por força do hábito. Afinal, ela trabalha em uma companhia que atua como uma alternativa digital ao dinheiro. Segundo, por uma questão pessoal. “Parece que eu estou vendo o dinheiro ir embora”, diz. Paschoal aposta que o fim das cédulas está próximo, graças a avanços na tecnologia, que, atualmente, oferecem maior segurança contra as fraudes. “No início da operação, o PayPal perdeu muitos milhões de reais para conhecer o comportamento do consumidor”, afirma. Em entrevista à DINHEIRO, ela fala sobre o mercado de pagamentos eletrônicos e as barreiras culturais que ainda impedem o avanço do setor.

Há algum tempo se fala que o dinheiro vai acabar. Mas, mesmo em países altamente tecnológicos, como o Japão, ainda se usa papel e moedas.
Existem alguns países na Europa que já não emitem mais dinheiro. A Suécia é um deles. A Dinamarca está indo no mesmo caminho. Você vai encontrando tecnologias que permitem isso. Há muito que amadurecer, mas não tem volta. O celular já é o controle remoto da nossa vida. Com ele, faço absolutamente tudo, inclusive usar meus cartões de crédito. O dinheiro perderá a relevância.

É um caminho que vale para o Brasil, que tem dimensões continentais, ao contrário de Suécia e Dinamarca?
É uma realidade para um país grande como o Brasil. Vale lembrar, novamente, o exemplo dos táxis. Há três anos, não havia como pegar um táxi sem dinheiro. Hoje, não existe táxi sem cartão. Nossa expectativa é de que essa revolução aconteça muito rapidamente, nos próximos dez anos. E, nos próximos três anos, veremos mais inovações do que na última década.

Mas parece que ainda há barreiras, como no caso da transferência de valores, que não é tão fácil. É um problema cultural ou de legislação?
Há barreiras sim, dos próprios bancos e até culturais. É preciso desmistificar a tecnologia. Pode ser mais simples do que parece. É possível, por exemplo, enviar um pagamento por e-mail. As grandes corporações e instituições financeiras também limitam um pouco essa simplificação.

Muito se fala, também, dos pagamentos por celular. Quando esse modelo vai engrenar no Brasil?
Isso já está acontecendo. É a presença do mundo online no mundo offline. Nos postos da Shell, já é possível pagar com o celular usando nossa tecnologia. Trata-se de um ambiente extremamente tradicional, no caso, os postos de gasolina, usando esse modelo. Essa é uma prioridade da minha gestão. No último dia dos pais, 45% das compras no comércio eletrônico já foram feitas com um celular. Para nós, o ponto-chave é a conversão de venda. Não adianta ter uma solução de pagamento online em que seja preciso ficar na ponta dos dedos digitando. Para isso, desenvolvemos soluções de segurança com base em comportamentos.

Grande parte dos estabelecimentos comerciais aceitam apenas algumas bandeiras de cartão e é raro encontrar a possibilidade de pagar pelo celular. Ainda estamos iniciando esse processo de transformação?
É um processo, mas ele é muito rápido. Hoje, ainda assusta pensar em ir à padaria apenas com o celular. Daqui a um ano ou dois, será perfeitamente normal. Estamos cada vez mais próximos do fim do dinheiro.

Isso se deve a avanços na tecnologia de pagamentos eletrônicos?
Sim. O que nos permite pensar nisso é o aumento da eficiência dos sistemas de gestão de risco. Alguns anos atrás, para confirmar uma transação, era preciso, até mesmo, fazer uma ligação. Hoje, no momento do pagamento, cruzamos 82 variáveis para determinar se é mesmo o titular da conta que está fazendo a transação. No caso do celular, até a forma como você segura o aparelho é levada em consideração. O sistema analisa a inclinação do celular. O mesmo vale para a velocidade de digitação. Se uma pessoa for assaltada e o ladrão tentar fazer uma transação, ela será negada. E, se o consumidor tem uma experiência melhor na hora da compra, faz sentido acabar com o dinheiro.

Mas, os bancos já perderam muito dinheiro com fraudes eletrônicas. Isso ainda é uma realidade?
No início da operação, o PayPal perdeu muitos milhões de reais. Para quê? Para conhecer o comportamento do usuário. Era preciso deixar a transação acontecer para aprender a lidar com o fraudador. Não só no Brasil. No mundo inteiro, perdeu-se muito dinheiro para conhecer esses comportamentos fraudulentos e evitá-los. Eu só consigo deter a fraude se eu a conheço.

O mercado de pagamentos eletrônicos é, portanto, um mercado de prevenção a fraudes…
Hoje, temos como pilar principal a gestão de fraudes. Inovação e foco no consumidor só são possíveis se as fraudes estão controladas. Mas sempre com a missão de democratizar o uso do dinheiro.

O setor de meios de pagamentos também vem enfrentando várias mudanças, incluindo novo marco regulatório e a entrada de competidores. Qual é o efeito dessas transformações para o PayPal?
Eu olho pelo ponto de vista da oportunidade. Estamos vendo uma movimentação do mundo offline migrando para o online. Há um vento favorável. Globalmente, existe, também, uma preocupação em como atender os não bancarizados. Ainda é um número muito relevante e todos querem aproveitar as vantagens do mercado eletrônico. O cartão pré-pago, por exemplo, vem suprir essa demanda.

O PayPal, hoje, concorre com as bandeiras de cartão de crédito?
O PayPal se posiciona como uma carteira de pagamento online. Nosso objetivo é oferecer a melhor experiência de compra aos consumidores, com segurança. Em alguns casos, sim, uma bandeira de cartão de crédito pode ser nossa concorrente. Em outros, são nossos parceiros, assim como os bancos e as processadoras de pagamentos.