Aos 81 anos de idade, Joseph Safra, o homem mais rico do Brasil, com patrimônio calculado em US$ 25,2 bilhões, está com um problema familiar inédito para resolver. Ele educou filhos brilhantes e determinados, que gostam de trabalhar como o pai. Mas, por uma dádiva do conhecimento e da fortuna, pensam diferentemente sobre como conduzir negócios. Especialistas em governança corporativa são unânimes em afirmar que pessoas dotadas de boa argumentação, quando têm opiniões diversas sobre uma companhia — neste caso, um grande banco brasileiro —, tendem a agregar ainda mais valor para as decisões do Conselho de Administração e, consequentemente, para a perenidade da instituição no longo prazo. Era assim no Banco Safra até a semana passada, quando um dos filhos de Joseph, Alberto, decidiu deixar seu trabalho na área de pessoas jurídicas do banco fundado por seu avô, Jacob Elie Safra, em 1955. “Em comum acordo Alberto Safra não mais faz parte de seu Conselho. Seguirá fazendo parte do grupo. Sua saída se deve exclusivamente à sua intenção pessoal de dedicar-se a outro projeto com a família”, declarou a instituição em nota.

Segundo fontes do mercado, Alberto Safra deixou o banco com outros dois altos executivos de sua confiança, o ex-presidente Rossano Maranhão e o ex-vice-presidente Eduardo Sosa. O motivo seriam divergências com o irmão mais novo, David, sobre o projeto de carteira digital SafraWallet. David é responsável pela área de pessoas físicas do banco. DINHEIRO apurou que independentemente das divergências, o “comum acordo” é considerado importante para toda a família, diante de lições aprendidas das experiências da geração anterior.

ALBERTO CORSETTI O novo presidente do Banco Safra está na instituição há cerca de 50 anos e liderava a área de crédito (Crédito:Divulgação)

No passado, Joseph passou por situação de crise com seu outro irmão, Moise, falecido em 2014, que resultou na criação de um novo banco, o J. Safra. Ambos com sede na mesma esquina da Avenida Paulista, em São Paulo, concorriam em áreas semelhantes. Como resultado, ao final da questão, Moise aceitou vender sua parte do Banco Safra ao irmão Joseph.

Agora, na avaliação do analista responsável pela área de bancos da Austin Rating Luis Miguel Santacreu, que já trabalhou no Safra, o contexto é diferente. “Os filhos estavam caminhando muito bem e com sucesso, o Alberto tocando a área de pessoas jurídicas; o David com a de pessoas físicas; e o Jacob, filho mais velho, no exterior com a área internacional em expansão na Europa”, diz. Sobre a saída de Alberto e de dois executivos, Santacreu afirma que o Safra possui excelentes quadros, com pessoas experientes. “A escolha de Alberto Corsetti para presidente é prova disso. Ele conhece muito sobre crédito, entende a estrutura e saberá tocar o banco. E o David conhece toda a parte de pessoa física.”

IRMÃOS Na foto acima, três dos filhos de Joseph: Alberto, David e Esther. Divergências entre os dois primeiros teriam levado à saída de Alberto do banco. Jacob (foto à direita), o primogênito, cuida da área internacional e da expansão pelos EUA, Europa, Oriente Médio e Ásia (Crédito:Divulgação)

NOVO PROJETO Nos números relativos ao primeiro semestre de 2019, o patrimônio líquido do banco evoluiu 18,8% para R$ 12,443 bilhões, sem incluir outros negócios da família no exterior: nos EUA (Safra National Bank), na Europa (J.Safra Sarasin), além de Oriente Médio e Ásia. Para Santacreu, assim como para o resto do mercado financeiro, a dúvida que fica e que deixa muitos competidores preocupados é sobre qual projeto Alberto Safra irá começar após deixar o banco. “É um projeto da família, não é como uma fintech que precisa de aportes de venture capital e private equity para andar. Não é uma coisa pequena. Quem vai aportar os recursos é o pai Joseph? Vai ser um banco digital? Não vai ter nenhuma colisão (ou convergência) com os clientes do Banco Safra? São dúvidas que ainda serão respondidas”, diz.

O analista apontou uma pista, ao considerar o perfil das pessoas qualificadas que já estão ao lado de Alberto Safra. “O Eduardo Sosa sempre foi um profissional de produto, da área de cartões, está aí o SafraPay. E o Rossano Maranhão, que também foi presidente do Banco do Brasil, é uma pessoa de muitos relacionamentos. É uma boa forma de começar.”