Maior exportadora de frangos do mundo e um dos principais nomes da indústria global de alimentos, a brasileira BRF tem sido um prato cheio para os escrutínios do mercado de capitais. Sob uma série de equívocos de gestão, reconhecidos pela própria companhia, o grupo registrou, em 2016, um prejuízo de R$ 372 milhões, o primeiro de sua trajetória. O quadro se agravou entre janeiro e junho deste ano, com uma perda acumulada de R$ 448 milhões. Na noite da quinta-feira 9, a empresa interrompeu esse ciclo negativo, ao divulgar, entre outros indicadores, um lucro de R$ 137,6 milhões no terceiro trimestre, alta de 666% sobre igual período, um ano antes.

Diante do resultado, os executivos da BRF esbanjaram otimismo. “Não há dúvida de que revertemos a situação e de que estamos construindo uma base forte e consistente para o futuro da companhia”, afirmou Abilio Diniz, presidente do conselho de administração da empresa, em teleconferência com analistas, na sexta-feira de manhã. Entretanto, as palavras do empresário e os números do balanço parecem não ter convencido o mercado. Horas depois, no início da tarde da sexta-feira, as ações da companhia estavam sendo negociadas a R$ 41,10, uma queda de 4,42%.

Um fator, em particular, segue alimentando a desconfiança do mercado: a demora para definir o substituto de Pedro Faria, CEO global da BRF, que seguirá no cargo até dezembro. Com a mudança, o escolhido será o quarto presidente a comandar a companhia, em um período de cinco anos. “Essa alta rotatividade passa uma visão negativa para o mercado”, diz Gabriel Lima, analista do Bradesco BBI. Uma disputa entre dois grupos de acionistas estaria por trás da indefinição sobre o novo CEO. De um lado, Abilio e a gestora de recursos Tarpon, que, desde abril de 2013, assumiram as rédeas da operação, com a promessa de levar a BRF a um novo patamar (veja mais no quadro ao lado).

Na outra ponta, os fundos Petros e Previ, donos de uma fatia de 22% da empresa, e que depois de ver as metas ambiciosas de Abilio e companhia naufragarem, passaram a pressionar por mudanças profundas na gestão e por uma menor interferência do empresário. Segundo um executivo do setor, as reuniões do conselho da BRF têm sido cada vez mais tensas. “Não há nenhuma compatibilidade entre os dois grupos”, afirma. Ele observa que José Aurélio Drummond, conselheiro da empresa e ex-presidente da Whirpool, chegou a ser o nome mais próximo de um consenso para substituir Faria. “No entanto, ele perdeu força à medida que Petros e Previ entenderam que ele se aproximou do Abilio.”

Durante a teleconferência com analistas, Abilio negou qualquer disputa e rebateu as alegações de que estaria ditando as regras no dia a dia da empresa. “Nenhum acionista, por mais importante que seja, é o dono da companhia”, disse. “Somos um colegiado e estamos absolutamente engajados. Queremos tranqüilidade para poder trabalhar, seguir o nosso rumo e apresentar resultados”, afirmou o empresário.