A família de Ahmed Merabet, o policial executado na rua pelos jihadistas que atacaram o semanário satírico Charlie Hebdo, relatou sua raiva e tristeza nesta segunda-feira (14), durante o julgamento dos atentados que abalaram a França em 2015.

Não passa um dia, ou uma noite, sem que pense nas terríveis imagens da execução de seu irmão, que se espalharam pelo mundo. “É como uma obsessão”, confessa Nabiha Merabet.

“Essa tragédia destruiu nossa família. Temos uma ferida aberta que nunca vai sarar”, diz a mulher, de calça branca e túnica preta.

Em 7 de janeiro de 2015, Ahmed Merabet, um policial de 40 anos, foi executado a sangue frio pelos irmãos Said e Chérif Kouachi, após confrontá-los no meio da rua, em Paris.

Os irmãos Kouachi saíram do veículo, com o qual fugiam, abordaram Merabet, que estava caído no chão após ser atingido por um tiro. O policial ergueu as mãos, como se fosse se render, mas foi atingido por uma bala na cabeça.

“Meu irmão era francês e muçulmano praticante. Ele defendia os valores da República e foi covardemente assassinado enquanto cumpria seu dever”, disse Nabiha Merabet, “enojada” com a covardia dos irmãos Kouachi, mas também com a difusão do vídeo do assassinato.

O vídeo, filmado por um vizinho, foi postado nas redes sociais antes de ser removido. Mas os canais de notícias e sites pegaram a gravação, e as imagens da execução, em toda sua brutalidade, deram a volta ao mundo.

Outra de suas irmãs, Fouzia Merabet, conta que passou por uma longa depressão, depois da morte de seu irmão. Alguns dias são mais difíceis do que outros, diz ela.

“Alguns dias consigo conviver com isso. Outros, tenho a impressão que aconteceu ontem, e a dor é intransponível”, desabafa.

No tribunal, a companheira de Ahmed Merabet explica que não tem “palavras fortes suficientes” para explicar o que sente, apesar de já terem se passado cinco anos.

Com o vídeo, “todos se lembram de Ahmed como um homem no chão. Mas eu me recuso a fazer isso”, diz.

Após um breve silêncio, ela retoma a palavra, dirigindo-se aos acusados, que estão sendo julgados por seu apoio logístico aos autores dos atentados, mortos após cometer o crime.

“Hoje perdi tudo, minha vida de mulher, minhas esperanças. Mas estou de pé. Estou de pé, e eles não terão nem meu ódio nem meu perdão”, completou.