Muitos gostariam de vê-lo arder nas labaredas do inferno. Enilson Simões de Moura, o endiabrado Alemão das históricas greves metalúrgicas do ABC paulista, demonstra sob faiscantes olhos azuis que a recíproca é verdadeira. ?Lula é mentiroso. Meneguelli, Vicentinho e Marinho são nulidades ?, dispara sobre o maior ícone da esquerda e seus sucessores no sacrossanto sindicato de São Bernardo do Campo. À direita, igualmente espeta o tridente. ?Medeiros é megalomaníaco e Paulinho, despreparado.? Mais que vociferar, Alemão fez o que seus adversários acham pior: montou a sua própria central, a Social Democracia Sindical (SDS) e, com um bem arquitetado lobby federal, ajuda a administrar os recursos do poderoso caixa estatal do movimento sindical, o Fundo de Amparo ao Trabalhador. Com recursos de R$ 380 milhões este ano e R$ 500 milhões para 2001, 20% do FAT é destinado às centrais sindicais. Em seus três primeiros anos de existência, a SDS beliscou ali R$ 20 milhões e espera receber R$ 23 milhões em 2001. ?Eles não sabem fazer central sindical. Eu sei.?

Aos 50 anos, Alemão voltou para ficar. Ele amarrou uma grossa teia de sustentação da SDS tanto nas entidades de classe, quanto nos gabinetes de Brasília. Após a fundação da central, em 1997, num congresso prestigiado pelos ministros José Serra e Paulo Renato, montou praça em Brasília. Para chegar ao FAT, esticou um cordão de apoio político até obter a alteração de uma medida provisória no sentido de dar poderes ao ministro do Trabalho para mexer nos conselhos gestores do FAT e do FGTS. ?O ministro Dornelles é político, preparado e sabe o que faz?, julga Alemão sobre quem incluiu a SDS nas ricas mesas.

Com acesso ao FAT, a central dá verbas para cursos de reciclagem a associados discretos e milionários. Caso do Sindicato dos Empregados em Condomínios de São Paulo, cujos 400 mil filiados recolhem uma fortuna em imposto sindical. A entidade retribui com gordas mensalidades à SDS. O esquema se repete em setores marginalizados pelas outras centrais, como o de serviços. A luta dos frentistas de postos de gasolina contra as bombas automáticas foi organizada ? e vencida ? pela SDS. ?Não temos um sindicato âncora?, fala Alemão. ?O FAT dinamiza nossa estrutura em todo o País.? Este ano, oficialmente a SDS patrocinou cursos para 77 mil trabalhadores. Quanto mais faz, mais recebe.

A ressurreição de Alemão tem o gosto da desforra. Em 1979, no ABC, ele esteve preso 15 vezes por puxar greves. No ano seguinte, foi condenado a 3 anos de meio de prisão, pena só imposta a Lula. Nunca, entretanto, foi convidado a ser diretor do sindicato dos metalúrgicos. Em álbuns sobre as greves, seu rosto foi apagado. ?Ciúmes?, acha. Faminto e desempregado, soube que Lula dizia que ele estava bem. Com ajuda do então suplente de senador Fernando Henrique Cardoso, arrumou trabalho de carregador no Ceagesp, entreposto de hortifrutigranjeiros. Descobriu 15 mil iguais. Fundou um sindicato, foi eleito presidente, melhorou salários e virou secretário da Força Sindical. Na hora de assumir o comando, foi preterido. ?Ele era apenas um verdureiro?, conta um diretor da Força.

Hoje, o verdureiro recebe cerca de R$ 6 mil por mês do Ceagesp, de onde está desligado. Sua SDS apregoa a filiação de 1.100 entidades, produz farta literatura e tem convênios internacionais. Contra o MST, ligado à CUT e ao PT, tem o Mast (Movimento dos Agricultores Sem Terra). No Rio, base de Dornelles, toca o Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT), espelho do que a Força gere em São Paulo, ambos de reemprego. No início de 2001, Alemão, egresso do grupelho Polop (Política Operária), famoso nos anos 70 pelo vasto arsenal teórico marxista, quer reunir 10 mil delegados no segundo congresso da SDS. ?Vou fazer o maior congresso de trabalhadores do Brasil.?