Não é fácil vender produtos funerários, atividade que vem sendo chamada pelos termos em inglês death care. Morrer é uma perspectiva aterrorizante, e a grande maioria prefere simplesmente não pensar no assunto. Porém, mais cedo ou mais tarde, cada um dos 210 milhões de brasileiros e brasileiras precisará dos serviços dos profissionais desse setor. Sem trocadilhos, esse é um mercado cheio de, digamos, vitalidade. “A demanda pelos serviços de death care deverá aumentar ao longo das próximas décadas”, diz o gestor de fundos Vicente Conte Neto, sócio da gestora de recursos H11 Capital.

Aqui não há nenhuma especulação. A razão é demográfica. Segundo ele, a pirâmide demográfica brasileira mostra que uma parcela maior da população chegará ao fim de sua expectativa de vida por volta de 2050, o que vai elevar a demanda por serviços funerários, salvo se, nesse meio tempo, for descoberta uma maneira garantida e acessível de dispensar os serviços da dama vestida de preto. Conte sabe do que fala. Sua família investe em cemitérios privados há duas gerações.

Agora, Conte pretende estender essa possibilidade a outros investidores. Sua gestora já começou a distribuir a terceira leva de cotas do fundo imobiliário Brazilian Graveyard and Death Care Services. A meta, segundo o prospecto registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), é levantar R$ 201 milhões até junho (veja quadro ao final da reportagem). Lançado em 2013, o fundo fará uma nova captação junto a investidores institucionais e individuais.

Resista à tentação da ironia, e não pense em rentabilidade matadora. Para remunerar o capital, o fundo investe em cemitérios privados em operação. Já possui um deles, o Terra Santa, localizado na região metropolitana de Belo Horizonte, com cerca de 210 mil metros quadrados e capacidade para 60 mil jazigos. Com os recursos, a estratégia é adquirir outros empreendimentos. “A receita dos cemitérios privados vem da venda de jazigos e da cobrança de taxas de manutenção”, diz João Eduardo Santiago, outro sócio da gestora.

Longa vida: Conte Neto (à direita) e Santiago, da M11 Capital: de olho na pirâmide demográfica
Longa vida: Conte Neto (à direita) e Santiago, da M11 Capital: de olho na pirâmide demográfica (Crédito:Marco Ankosqui)

Conte avalia também que, no longo prazo, será possível acrescentar novos serviços, como a venda de seguros de vida e seguro-funeral. Essa atividade ainda é predominantemente estatal, ou fica a cargo de igrejas e associações religiosas, especialmente nas cidades pequenas. A atuação privada ainda é pequena e muito fragmentada. “Há cerca de 200 cemitérios privados em operação no Brasil, e o setor tem muito espaço para consolidação”, diz Conte. Como o fundo ainda está em processo de venda, os sócios preferem não comentar sobre as perspectivas de rendimento e de valorização das cotas.

No entanto, o prospecto do fundo indica que a rentabilidade esperada do produto equivale à variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais juros estimados em 7% ao ano. Ainda segundo o prospecto, o fundo terá suas cotas negociadas em bolsa, e valor de lançamento de cada cota será de R$ 1.550. A expectativa é que o investidor comece a receber rendimentos mensais após a maturação dos investimentos, prevista para um ou dois anos após o lançamento das cotas.

Vale a pena? Como qualquer fundo imobiliário, o Graveyard tem a vantagem que os rendimentos são isentos de imposto. “Produtos desse tipo são adequados para a previdência privada e para o planejamento da aposentadoria, tanto pela isenção fiscal quanto pela regularidade dos investimentos”, diz o consultor financeiro Fernando Costa. Uma das desvantagens de fundos desse tipo é que, por serem produtos muito específicos, a liquidez deve ser pequena. Assim, não será fácil vender as cotas, caso seja necessário obter recursos rapidamente.

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