O Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), tem registrado um intenso e atípico movimento desde o começo do mês. Além das férias escolares – tradicional período de alta para o turismo –, o quarto maior terminal aéreo do País, com 6,7 milhões de passageiros transportados em 2020, visivelmente sente os efeitos do avanço da vacinação contra a Covid-19, em especial no Sul e no Sudeste. Assim como para diversos setores da economia, a imunização em alta é uma injeção de ânimo para as companhias aéreas. Julho foi o terceiro mês consecutivo de crescimento da aviação doméstica, com um média de decolagens de 1.624 por dia, ou o equivalente a 67,7% da oferta de voos no início de março de 2020, antes da pandemia, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). “Os dados da malha aérea doméstica de julho confirmam que a vacinação está reaquecendo a demanda por viagens de avião”, disse o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz. Para ele, é fundamental que a imunização da população mantenha o ritmo atual para que a aviação possa retomar sua atividade de forma consistente.

Esse otimismo com a volta da normalidade dentro dos estados, no entanto, não representa que a aplicação das duas doses dos imunizantes na população vai gerar anticorpos contra a crise em toda a economia. Especialistas afirmam que a recuperação da atividade econômica, que começou a se fortalecer no primeiro semestre do ano, tem pela frente novos desafios, com ou sem vacina. José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, é dos que já antecipa qual será o principal problema. “Em função do mercado de trabalho, a situação vai piorar antes de melhorar”, disse durante o webinar “A recuperação econômica é sustentável?”, promovido pela Fundação Getulio Vagas (FGV) e pela Folha de S.Paulo na quarta-feira (21). “A recuperação do emprego vai começar pelas áreas que exigem mais qualificação, deixando de lado grande parte dos trabalhadores”, afirmou.

Em São Paulo, estado mais rico e populoso do País, e que atualmente lidera o porcentual de vacinação, com 52% das pessoas com pelo menos uma dose, a confiança na retomada gradual da economia no segundo semestre motivou o governo a definir uma série de eventos-teste para avaliar a eficácia da vacinação contra o novo coronavírus no controle da pandemia. Segundo a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, serão quatro categorias de eventos: negócios, cultura e lazer, eventos sociais e de esporte – modelo adotado em países europeus, como Reino Unido, Espanha e Holanda. Serão 30 eventos nos próximos meses. O primeiro deles é a Expo Retomada, no Centro de Convenções de Santos, em maio de 2022, que deve reunir até 1,5 mil pessoas. A ideia é testar os efeitos-colaterais de locais com grande aglomeração de pessoas imunizadas. “A vacina não quer dizer que a gente não tem o risco de se contaminar”, disse a secretaria, ao relembrar que o próprio governador João Doria testou positivo mesmo depois de ter tomado duas doses.

CAUTELA Apesar do otimismo cauteloso com o cenário pós-vacina, indicadores apontam o reaquecimento da economia. De acordo com os dados mais recentes do o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de serviços prestados no Brasil cresceu 1,2% em maio, na comparação com abril. Com o resultado, o setor voltou a superar o nível em que se encontrava antes da pandemia, ficando 0,2% acima do patamar de fevereiro de 2020. Foi o maior resultado para um mês de maio, na comparação com abril, de toda a série histórica da pesquisa. Na comparação com maio do ano passado, o setor avançou 23%, a terceira taxa positiva seguida e também a mais intensa da série histórica, iniciada em 2011. No acumulado de janeiro a abril, o setor tem alta de 7,3%.

Da população adulta do Estado de São paulo já tomou ao menos uma dose da vacina

Para Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, o aumento da velocidade da vacinação é uma noticia positiva, mas existem outras questões a serem equacionadas. “A afirmação dos estados de que a imunização estará completa em agosto anima, mas há questões como reforma tributária que ainda pesa no humor do mercado, tanto quanto o controle da pandemia”, afirmou. Dado esse cenário, os brasileiros devem ficar saudáveis antes mesmo da cura da economia.