Há pouco menos de um ano, na Alemanha, o clima era de união. De um lado, executivos da marca chinesa de telefones celulares BenQ. De outro, representantes da gigante Siemens. Anunciavam aquela que seria a recuperação da divisão de celulares da companhia alemã, que vinha de uma série ininterrupta de prejuízos ? entre 2004 e 2005 as perdas chegaram a ? 281 milhões. Na semana passada, a situação era outra. A idéia de unir a tradição da Siemens ao design premiado da BenQ implodiu com o anúncio de que a fábrica de Munique, na Alemanha, será desativada. Com o pedido de falência, três mil empregos estão ameaçados de extinção. A Siemens, que já tinha pago para se livrar da fábrica, anunciou um fundo de ? 35 milhões para amparar os trabalhadores. ?A atitude da BenQ é condenável. Vamos ajudar como pudermos?, disse Klaus Kleinfeld, diretor executivo da empresa alemã. Segundo a BenQ, foram investidos ? 840 milhões na tentativa de salvar a fábrica, mas as constantes perdas de mercado, baixas perspectivas para o Natal e a constatação de que seria impossível concorrer com outras gigantes mundiais, como as líderes Nokia e Motorola, fizeram com que os chineses largassem mão. A produção será deslocada para a China. ?Seria necessário mais US$ 1 bilhão para salvar o negócio. E atualmente só contamos com 3% do mercado mundial. Seria inviável?, disse Rick Lei, chefe de estratégia da BenQ. ?Esse anúncio certamente atingirá a marca?, acredita Luís Minoru, diretor do Yankee Group para a América Latina.

 

Diante disso, a pergunta é inevitável: como fica a fábrica brasileira? De acordo com o comunicado da empresa, possíveis conseqüências para outras subsidiárias do grupo estão sendo analisadas. A única diferença, por enquanto, é que a unidade brasileira passará a responder diretamente à matriz, em Taipé. Mas a situação do mercado brasileiro não é vista com otimismo por analistas e fabricantes de telefones celulares instaladas no País. A valorização do real prejudica as exportações, e os altos custos dos componentes importados comprimem a margem de lucro das empresas. Além disso, a mão-de-obra local é mais cara do que em países asiáticos, como a China. Em tempo, foi esse um dos motivos para a quebra da BenQ na Alemanha. A Nokia brasileira, que exportou US$ 1 bilhão em 2005, não acredita que atingirá o mesmo patamar este ano. Trabalha para cortar custos em sua linha de montagem. A BenQ, porém, anunciou o investimento de R$ 10 milhões na sua operação brasileira, ainda que metade da produção tenha por destino países da América Latina, principalmente Argentina e Chile. Segundo informações da unidade brasileira da BenQ, a empresa está produzindo aparelhos com mais recursos e voltando sua atenção para o varejo. O trabalho será árduo. Entre os celulares mais buscados no site de comparação de preços Buscapé, por exemplo, aparece apenas um modelo da marca Siemens. ?A empresa demorou para lançar celulares com a marca BenQ Siemens no mercado?, analisa Minoru. ?Mas acredito que a operação brasileira não será afetada.?