A questão econômica pode ser ponto crucial para a derrota do presidente Jair Bolsonaro nas eleições de outubro e a alta na inflação, um dos componentes que mais pesam no bolso do brasileiro neste momento, acendeu alerta vermelho no Palácio do Planalto.

Nesta quarta-feira (11), dois fatos chamaram a atenção logo cedo: a demissão do ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, para a entrada de Adolfo Sachsida, homem de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes; e a inflação oficial de abril, que chegou a 1,06% – maior para o mês de abril desde 1996 –, com um acumulado de 12,13% em 12 meses – maior desde 2003.

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Para a saída de Bento Albuquerque, um dos poucos nomes que integravam o governo desde o início, pesou a falta de manejo no controle dos preços sobre os combustíveis. Na terça-feira (10), o diesel foi reajustado pela Petrobras em 8,87% e o composto é artigo de luxo na queda de braço que envolve os caminhoneiros e o governo Bolsonaro, que conta com a imagem desgastada entre o grupo de pressão.

Apesar da movimentação de troca no comando ministerial e da inflação galopante, Bolsonaro tratou de diminuir a questão. “O mundo todo vem sofrendo. Apesar da inflação estar alta, na nossa terra os efeitos são menores”, disse ele em evento no Paraná. A velha política de terceirização dos problemas na pandemia, também voltou centro do debate quando o presidente disse que “isso que passamos no momento é fruto de política equivocada adotada por muitos governadores por ocasião da pandemia”.

Setores, como a Federação Única dos Petroleiros (FUP), indicaram que Bento Albuquerque é “bode expiatório” de Bolsonaro na questão da política de preços. Segundo a organização, a União possui mecanismos para reverter a política de preço de paridade de importação, o PPI, adotada como forma de evitar o subsídio ao combustível e seguir uma lógica mínima de mercado.

Economia e política andam juntas

A mais recente pesquisa eleitoral da semana, divulgada pela Genial/Quaest, mostrou que Bolsonaro vinha em uma escalada de pequenos avanços contra o ex-presidente Lula, no entanto estagnou. A leitura do que pesa neste momento, segundo o diretor da Quaest, Felipe Nunes, é política e economia.

“Como os eleitores de Bolsonaro e Lula já estão definidos, é a faixa dos Nem-Um-Nem-Outro que vai decidir a eleição. Entre esses eleitores, 54% reprovam a ação do presidente, contra 17% que aprovam”, disse Felipe Nunes em nota.

Para 50% dos entrevistados, a economia é o principal problema do País e 62% acreditam que a situação econômica piorou no último ano. Porém, 52% têm expectativa de melhora.

Figuras como o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, acreditam que esta eleição será parecida com a de 2002, quando Lula recebeu seu primeiro mandato. Naquele ano, a inflação fechou em 12,53%, houve um “choque de confiança” com receio da política petista, no entanto a situação fiscal do Brasil atual é “muito frágil”.

Camex zera impostos

Para amenizar o peso da inflação, a Câmara de Comércio Exterior (Camex), decidiu zerar, até 31 de dezembro de 2022, o imposto de importação da carne de boi e de frango (bem como pedaços e miudezas congeladas), do trigo, da farinha de trigo, do milho em grão, das bolachas, dos biscoitos e do ácido sulfúrico.

O impacto na economia é praticamente nulo, tendo em vista que a renúncia tributária deve chegar a R$ 700 milhões até o fim do ano; porém, o governo vai se agarrar no que pode para ter discurso político na campanha.

“Sabemos que essas medidas não revertem a inflação, mas aumentam a contestabilidade dos mercados. Então, o produto que está começando a crescer muito de preço, diante da possibilidade maior de importação, os empresários pensam duas vezes antes de aumentar tanto o produto”, disse em coletiva nesta quarta o secretário-executivo da Camex, Marcelo Guaranys.