Os dados do desemprego divulgados pelo IBGE na sexta-feira 27 confirmaram a suspeita de analistas de que a recuperação da economia caminha a passos mais lentos do que o esperado neste ano. Em meio a incertezas associadas ao período eleitoral e um aumento de riscos do cenário externo, os discursos do presidente Michel Temer e do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que o emprego e a economia estariam em uma situação melhor, no segundo semestre de 2018, parecem que não vão acelerar no ritmo imaginado. As empresas ainda não sentem firmeza necessária para convocar novos empregados e o aumento da ocupação informal se mostra frágil para sustentar o nível de consumo capaz de movimentar a atividade a um ritmo de avanço de 3% do PIB. A taxa de desemprego no trimestre encerrado em março fechou em 13,1%, acima da expectativa mediana do mercado. Ao todo, 13,7 milhões de pessoas estavam desocupadas no período. Com esses números, analistas colocaram uma tendência de baixa nas previsões de crescimento para 2018.

Na comparação com o trimestre anterior, a taxa de desemprego teve elevação, mas os números são influenciados pela massa de temporários do final de ano. Sem essa influência, o número ficou praticamente estável. Não se trata de uma reversão de tendência. O mercado de trabalho segue em recuperação. A dúvida que fica mais clara é quanto ao ritmo de melhora e a qualidade das novas vagas. “Quando se olha a economia como um todo, há aumento da concessão de crédito, mas isso terá efeitos mais forte no segundo semestre”, afirma Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados. A consultoria prevê que a taxa de desemprego encerre 2018 em 11,9% na média, ante 12,7% na média de 2017.

Informalidade: em todas as comparações, o volume de empregos com carteira assinada está caindo. Sem saída, os trabalhadores fazem bicos (Crédito:Cris Faga/NurPhoto e Miguel Schincariol / AFP)

Um dado preocupante no trimestre encerrado em março foi a queda no emprego formal, na comparação com o mesmo período do ano passado. A retração foi de 1,5%, com 493 mil vagas extintas. “Desde o início da crise, não houve recuperação das vagas com carteira de trabalho”, afirma Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. “Isso pode gerar diminuição do consumo, que, por sua vez, diminui ainda mais as vagas em serviços e, assim, se inicia um círculo vicioso.” A perda foi compensada pelo aumento da ocupação de pessoas sem carteira de trabalho e na categoria de conta própria, com avanços de 5,2% e 3,8%. As duas categorias reúnem 33,7 milhões de pessoas.

Os economistas levantam suspeitas de que a elevada informalidade seja um dos fatores centrais por trás do ritmo mais lento da retomada neste ano, ao considerar, por exemplo, que a falta de documentação dificulta o acesso ao crédito. Já a demora sobre a contratação com carteira assinada é atribuída a um cenário de incertezas. “O culpado disso tem nome e sobrenome: eleição presidencial”, afirma Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC. “Junta isso com um cenário externo mais volátil, quando o dólar vai a R$ 3,50, acende uma luz amarela para todo mundo.” Para Leal, os dados divulgados no primeiro trimestre reverteram um entusiasmo com a surpresa positiva observada no fim de 2017 e justificam novas revisões.

No banco ABC, por exemplo, a expectativa ao final do ano passado era de que a taxa de desemprego de 2018, ficaria em 10%. Agora, esse número passou a 12%. Mesmo será observado no PIB, cuja expectativa era de crescimento de 2,8% e agora deve ser revista para próximo de 2,5%. Na mesma linha, a consultoria Tendências também revisou a previsão do PIB do primeiro de trimestre. A expectativa agora é de um crescimento de 0,4%, ante os 0,9% previstos anteriormente.