Cresceu de maneira acelerada nos últimos dias a impressão nos setores produtivos de que o presidente não reúne mais condições para dirigir o País. Era uma questão levantada por muitos analistas, políticos, segmentos diversos da sociedade, mas que agora alcança também o PIB. Costumeiramente resistente a críticas a governos, conservadora e discreta, a iniciativa privada passou a exibir de forma aberta a contrariedade dela com os últimos movimentos do mandatário, que referendavam e ainda referendam ações rumo a uma ruptura dos poderes constituídos e à instabilidade. Não é bom no campo dos negócios. Basicamente, a leitura é essa. A ameaça às eleições — Bolsonaro diz que pode interrompê-las —, a mobilização pela desordem e violência armada, conclamando inclusive polícias militares, serviram para consolidar o divórcio nada amigável dos donos do capital com o inquilino do Planalto. Eles não querem mais conversa. Não estão nada satisfeitos com os rumos. Já trabalham nos bastidores arduamente pela busca de uma saída política alternativa, democrática. A chamada terceira via. E estão dando respaldo aos partidos nesse sentido. Salvo entre alguns poucos gatos pingados fisiológicos, que vivem das benesses e incentivos do Estado em troca da vassalagem, Bolsonaro deixou de estar no radar de possibilidades da maioria dos empresários. É tido como incontrolável, despreparado e incapaz de levar adiante uma agenda minimamente construtiva. O descaso com o qual trata as necessárias reformas estruturais — em especial a tributária e a administrativa, para as quais nunca deu bola ou se engajou efetivamente — apenas reforçou a impressão e serviu de mote ao desembarque. O “mito” não conta mais com o apoio entusiasmado desse universo. Como disse o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, o presidente deixou de lado o essencial: governar. E assim contrariou, indistintamente, a maioria. Tratou de comandar o Brasil direto do palanque, de onde nunca desceu, com atitudes típicas de candidato, jamais de um gestor de Estado. E, nessa toada, errou a mão em quase tudo. Mesmo no campo da economia. Com as suas injunções diretas em preços de mercadorias, tipo os combustíveis; com a sistemática lista de pedidos para projetos populistas e o flerte com a desordem fiscal, rasgou o figurino liberal tão ansiosamente esperado — e prometido a eles — desde a eleição. Traídos, esses empreendedores parecem ter aprendido a lição e não querem mais cair em lorotas. De uma coisa, nove entre dez consultados do meio estão convencidos: o quadro para um crescimento sustentável do País nos próximos meses agravou-se profundamente. A inflação demonstra descontrole. O câmbio e os juros também conspiram para o engavetamento de projetos e planos de expansão, enquanto o consumo segue rarefeito, reflexo do massivo desemprego, já na casa de 15 milhões de trabalhadores sem colocação. A desconfiança do mercado cresce e o capital externo já não está tão favorável a apostas em gestões claudicantes como a de Jair Bolsonaro. Ele também precificou uma piora sensível das contas públicas. O temor de um retrocesso está no ar e o Brasil vai deixando de ser assim a chamada bola da vez. Outro ponto de influência nos humores financeiros foi a ata da última reunião do Copom que fala em ambiente suscetível a mais interferências monetárias.

Carlos José Marques, diretor editorial