O CEO e cofundador da QuiteJá, plataforma digital de recuperação de crédito, disse, em entrevista à DINHEIRO, que o momento é o melhor para quem deseja negociar o pagamento de dívidas. E também que a aceleração do processo de digitalização do mercado proporcionará a fintechs como a dele a assumir uma fatia maior de um setor que até pouco tempo era operado quase que exclusivamente por call centers.

Por que o momento é propício para negociar dívidas?
A pandemia de coronavírus afetou praticamente todos os segmentos da economia e obrigou bancos, financeiras e outras empresas a serem mais flexíveis. Dessa forma, o percentual de descontos tem sido maior desde que a quarentena começou. Um credor que oferecia 20% de desconto em uma negociação pode oferecer 65% ou 70% dependendo do perfil da dívida. É claro que cerca de um terço da população está numa situação muito difícil, mas para quem tem uma reserva essa é a hora para negociar dívidas atrasadas.

E as pessoas estão aproveitando para renegociarem seus compromissos?
Sim, estão. Neste período de quarentena o número de acordos fechados foi, em média, 35% maior do que nos primeiros dois meses do ano. Se analisarmos em separado, algumas de nossas empresas parceiras atingiram aumento de 60% de acordos.

Como surgiu a fintech e como ela atua?
Eu e meu sócio Rafael Abreu fundamos a QuiteJá em 2016. Trabalhei oito anos como advogado no setor de recuperação de crédito. Percebi o desgaste na relação entre bancos e devedores, e entendi que poderia criar um negócio que fizesse a ponte entre os dois lados com uma abordagem diferente do que é feito pelos meios tradicionais. A nossa política é propor opções e não impor ao devedor uma determinada condição. A gente sabe que a maioria quer pagar, mas não tem condições. Então, a primeira coisa que fazemos é conversar com o credor, discutir as possibilidades de descontos que ele pode oferecer. Feito isso, disparamos SMS com um link informando sobre as vantagens que o devedor pode ter se renegociar. Ao abrir o link, ele pode fazer simulações e escolher qual a forma de pagamento se encaixa em suas condições. Começamos com um banco de dados com 30 mil CPFs de clientes do banco Santander.

E como tem sido o desempenho desde então?
Crescemos 180% no segundo ano e 150% no terceiro. Conquistamos outros clientes como Itapeva, Porto Seguro e o banco digital Digio. Começamos com 30 mil CPFs e hoje temos 7 milhões. Nossa meta é chegar a 10 milhões até o fim de junho e a 20 milhões ainda em 2020. Para atender a demanda investimos para quadruplicar nossa capacidade de atendimento. Só em 2020 já fechamos acordo com uma base de 600 mil clientes. Nesses primeiros quatro meses, o valor recebido e repassado aos credores foi de R$ 220 milhões. Temos uma média de 110 mil boletos pagos por mês.

Esse é um serviço que compete com os call centers ou complementa o que eles fazem?
Na realidade, começou como um serviço complementar e ainda é assim. Mas o serviço digitalizado, baseado em Inteligência artificial é bem mais ágil. Um call center com mil funcionários pode fazer mil telefonemas simultaneamente, enquanto nós podemos chegar a 2 milhões de clientes em apenas uma hora porque eu não preciso de atendimento de banco. As pessoas dão as respostas por meio da plataforma. A pandemia também nos trouxe um novo cenário. O call center que não tinha uma operação home office bem estruturada está sofrendo muito. Não acho que vão deixar de existir, mas acredito que vamos abocanhar uma boa fatia desse segmento nos próximos anos.

Telemedicina
Serviços de saúde por R$ 15

A startup financeira de origem britânica alt.bank lançou no Brasil uma conta digital que oferece serviços na área de saúde: a alt.bank Saúde+. O cliente faz um cadastro e paga R$ 15 por mês para ter acesso a consultas de qualquer modalidade pelo sistema de telemedicina. Os médicos são da empresa parceira Dr. Consulta, que cobra R$ 40 adicionais, com direito a retorno. Os correntistas também integram um programa de cashback para compras online nos cartões de débito e crédito pré-pago da fintech, que envolve 223 estabelecimentos comerciais. O percentual de devolução do dinheiro da compra ao correntista varia entre 2% e 10%, conforme o parceiro.

Financiamento
Crédito imobiliário em alta

A fintech Melhortaxa registrou um crescimento de 70% no número de acessos à sua plataforma digital de crédito imobiliário desde o início da pandemia do novo coronavírus. O número de pedidos de financiamento imobiliário cresceu 4% na comparação com o mês de fevereiro. O site permite comparar instantaneamente as ofertas de todos os grandes bancos e fintechs e possibilita ainda o fechamento de contratos diretamente na plataforma. “Temos cerca de R$ 50 milhões em crédito imobiliário sendo contratados em processos já avançados e mais de R$ 100 milhões em processos entrantes”, afirma Rafael Sasso, cofundador da Melhortaxa.

Números da semana
R$ 6,73 bilhões 

Foi quanto o crédito imobiliário movimentou com recursos da poupança em março. O valor representa alta de 19,3% em relação ao mesmo mês de 2019 e avanço de 5,6% sobre fevereiro de 2020. No mês, foram financiados 25,7 mil imóveis, alta de 7,5% na comparação anual e de 0,5% na comparação mensal. Em doze meses, entre abril de 2019 e março de 2020, os empréstimos para construção e aquisição de imóveis somaram cerca de R$ 83 bilhões, o que representa alta de 34,9% em relação a igual período anterior. Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), a Caixa se manteve na liderança do setor, com R$ 2,810 bilhões financiados nas modalidades construção e aquisição em fevereiro. O Bradesco ficou em segundo lugar, com R$ 1,397 bilhão, e o Itaú Unibanco apareceu em terceiro, com R$ 1,302 bilhão. Em nota, a entidade informou que até março pode ser considerado “pouco expressivo o impacto da crise do novo coronavírus sobre o crédito habitacional”.