As áreas de investimento dos grandes bancos brasileiros nunca mais serão as mesmas depois que os clientes de varejo perceberem que os ganhos nominais de aplicações tradicionais vão ficar entre 4% e 4,5% em 2020. A expectativa é que esse público busque consultores de investimentos para realocar seu patrimônio, de acordo com cada perfil: conservador, moderado, balanceado, arrojado ou agressivo. Na visão de executivos de investimentos consultados pela DINHEIRO, a renda fixa pós-fixada (CDB DI, Tesouro Selic, fundos DI) ainda terá um papel importante de formar reservas de curto prazo para serem utilizadas em situações que exigem liquidez diária (emergências) e também como recurso imediato para aproveitar oportunidades de preço em aplicações mais arriscadas.

Para Martin Iglesias, responsável pela gerência de produtos de investimentos do Itaú, a renda fixa pós-fixada terá uma fatia relevante de 85% nas carteiras dos investidores conservadores. “Entendemos que o conservador é a pessoa que não aceita rentabilidade negativa no mês. Muito provavelmente, em 2020, a renda fixa pós-fixada não vai bater a inflação, daí a necessidade de diversificação nos outros 15%, ou pelo menos que se vá até o limite do seu perfil para não se perder poder de compra”, diz.

BALANCEADO O Itaú adota uma lógica de portfólio que coloca todos os produtos em todas as categorias, mas em proporções diferentes. “Para o moderado, a fatia em pós-fixados cai para 63%, para o arrojado recua para 35%, e para o perfil agressivo, apenas 5% como uma reserva líquida para aproveitar oportunidades”, diz. Numa carteira recomendada para clientes Uniclass (varejo) de perfil agressivo, por exemplo, o Itaú sugere: 7% em pós-fixados (Tesouro Selic, fundo DI ou poupança), 30% em multimercados (Itaú Multifundos), 16% em indexados à inflação (fundo RF IMA-B 5), 10% em prefixados (Tesouro Pré 2022), 26% em renda variável nacional (Itaú Dunamis), 2% em renda variável internacional (fundo S&P 500), 4% em dólar (fundo cambial dólar). “Vou recomendar também um pouco de fundos imobiliários, 5%. Há uma redução significativa da vacância em São Paulo, uma melhora nos ganhos dos aluguéis, e o início do ciclo de retomada da construção civil”, diz. Ele considera a diversificação em renda variável (ações e fundos de ações), multimercados e em ativos internacionais. “A visão é positiva para bolsa brasileira, com espaço para valorização de até 20% em 2020. Temos uma retomada da economia, o que aumenta as receitas das companhias, enquanto as despesas serão menores com o custo financeiro caindo”, afirma. No Itaú, clientes do varejo já podem aplicar a partir de R$ 1 em fundos com o Long Bias Multimercado e do Renda Fixa Simples.

No Banco do Brasil, a estratégia para cativar mais clientes foi reduzir o tíquete de entrada em multimercados para R$ 0,01. “Essa possibilidade foi adotada na Black Friday passada e foi tão bem aceita que tornou-se permanente”, diz Aroldo Medeiros,  diretor executivo comercial e de produtos da BB DTVM. Rodrigo Ayub, gerente geral da unidade de captação e investimento do Banco do Brasil (BB) também reforçou que o aporte inicial não é mais impeditivo para se fazer a diversificação das carteiras. “E desde novembro, com o robô advisor no app (aplicativo), o cliente pode relacionar quais os objetivos para seus recursos e o prazo, e a ferramenta ajuda a pessoa escolher o produto mais adequado para suas necessidades e desejos, desde uma viagem até a aposentadoria”.

Para aplicadores de perfil moderado, a carteira sugerida por Ayub considera 51% em pós-fixados (fundos DI, Tesouro Selic e LCAs), 20% em renda fixa prefixada, 17,5% em multimercados, 6,5% em renda variável (ações ou fundo de ações) e uma exposição de 5% em produtos de inflação, ou seja, que prometam ganhos reais aos poupadores. Aroldo Medeiros, da BB DTVM, complementou que a instituição também cortou as taxas de administração de fundos DI voltados ao varejo para 0,35% ao ano. “Abrimos toda a nossa prateleira de fundos para o varejo, com taxas muito baixas”.

ALTA RENDA Para Gilberto Abreu, diretor de investimentos do Santander Brasil, o público de varejo com mais de R$ 500 mil em patrimônio financeiro deverá alocar as carteiras diversificadas, mas com o risco controlado. “Não é sem risco, mas temos um modelo com probabilidade de perda menor”, diz. Na sugestão para o perfil balanceado, a carteira é formada por 30% em pós-fixados, 15% em renda fixa, 24% multimercados, 18% em inflação (debêntures incentivadas e outros papéis indexados ao IPCA), 9% em renda variável (fundo Seleção 30) e 4% em risco internacional (iShares S&P 500). E para o perfil arrojado, a carteira sugerida é alocada em: pós-fixados (8%), 10% em debêntures comuns e outros papéis de renda fixa, 39% em multimercados, 20% em inflação (debêntures de infraestrutura), 18% em renda variável local e 5% em ativos internacionais.

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