A computação quântica é difícil de entender, pois tenta resolver problemas que os não especialistas nem sabem que existem ou que podem ser revolvidos. Por exemplo: o envio marítimo de gás natural precisa chegar a tempo de as pessoas não ficarem sem energia e a indústria faz milhares de viagens pelo globo para manter essa cadeia. Ela tem de levar em consideração milhões de decisões discretas de combinações de rotas. E o problema piora se você aumentar o número de navios, introduzir disrupções como mau tempo, flutuações de demanda, podendo chegar a bilhões ou trilhões de possibilidades. Os supercomputadores atuais dizem: “Não! Posso simplificar a conta?”. Já um dos atualmente 30 computadores quânticos existentes no planeta afirmaria: “Eu topo, dou uma estimativa”. “Não é só uma questão de rapidez. Ele resolve complexos problemas de otimização”, disse à DINHEIRO o professor Roee Ozeri, que desenvolveu o primeiro computador quântico em Israel, país considerado hub de tecnologia no mundo.

Esse tipo de computação, parte de um mercado global estimado em US$ 949 milhões até 2025, considera fatores da mecânica quântica, que no lugar dos clássicos bits com zeros e uns usa bits quânticos, ou qubits, que seguem as leis naturais do fenômeno, como entrelaçamento de objetos que estão tão próximos que não podem ser descritos sem sua contraparte, sobreposição de estados, interferências ­— ou seja, variáveis aparentemente inconstantes que se misturariam num emaranhado de números que tornaria uma estimativa algo de ficção científica.

Divulgação

“Algumas companhias oferecem a possibilidade quântica em nuvens, mas em estágio de benefício pré-quântico para ter real valor para os clientes” Roee Ozeri, desenvolvedor de um computador quântico em Israel.

Computadores quânticos não se acovardariam nessa tarefa, mas hoje são grandes e caros. Na próxima década não vamos ver esse tipo de máquina como notebook ou desktop em nossas casas ou trabalho, segundo Ozeri. Mas estarão integradas a empresas de computação de alta performance e serão acessadas principalmente por serviços de nuvem ­— como já acontece no caso da IBM, pioneira no setor, que tem 20 dessas máquinas e dá acesso grátis a eles via uma network de mais de 125 organizações, laboratórios de pesquisas, startups e instituições de ensino. Ah, cada uma custa US$ 43 milhões. “Realmente algumas companhias oferecem a possibilidade quântica em nuvens. Todas estão em estágio de benefício pré-quântico, significando que são muito pequenas ou com muito ‘ruído’ para oferecer real valor computacional para seus clientes”, afirmou Ozeri.

RUÍDOS Eis o obstáculo. Ruídos não são sons e sim interferências que podem ser causadas interna ou externamente às máquinas, como campos magnéticos, variações de temperatura, impurezas no material qubit, átomos dispersos ou até mesmo vibrações. São minúcias que afetam um processamento delicado e preciso. Segundo Ozeri, que faz suas pesquisas no Instituto Weizmann de Ciências e que terá, inclusive, parceria com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino do Hospital São Luiz com 15 bolsas de pós-doutorados para brasileiros, esses ruídos impedem atualmente escalar os computadores quânticos. Em Israel, levou praticamente dez anos para construir os blocos básicos para montar um e iniciar a produção dos desejados qubits, com foco principal em pesquisa e não em negócios.

Empresas atualmente estão usando computadores quânticos em nuvem como os da IBM ou D-Wave, ou apostando em desenvolvedores como Google e Intel. A ideia é criar expertise para quando a tecnologia estiver amadurecida poder capitalizar em cima. Enquanto isso, os supercomputadores estarão dando tilt para balanços de risco em portfólios de investimentos de uma corretora ou tentando explicar o caos molecular dentro de uma pilha. Sabemos fazer e que funciona, mas só um computador quântico para explicar como.