Elas são de classes sociais diferentes, têm sonhos pessoais e profissionais diversos e, em comum, lutam para quebrar um ciclo de limitações e violências às quais suas mães, tias e avós foram submetidas. Para marcar o Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta quinta-feira, 8, a reportagem ouviu cinco jovens entre 14 e 21 anos que contam como romperam essas barreiras e qual caminho ainda querem percorrer.

Violência, relacionamento abusivo, maternidade compulsória e limitadas opções de estudo e emprego foram as situações enfrentadas por gerações anteriores – e elas decidiram superá-las.

Maira Bandeira, de 21 anos, foi matriculada no taekwondo aos 4 anos, após sofrer uma tentativa de abuso em casa. Anos depois, a mãe contou que aos 16 anos fora vítima de violência doméstica por parte do então namorado, quando estava grávida. “Isso me deu mais vontade de continuar lutando, de ter mais força e saber me proteger. Ela queria que eu soubesse me defender quando não estivesse por perto.”

A jovem aprendeu artes marciais e ganhou campeonatos. A luta, conta, lhe deu segurança para se defender fisicamente e ganhar confiança para não aceitar um relacionamento abusivo. “A última coisa que quero é estar com um homem que tenha a coragem de levantar a mão para mim”, diz Maira, que ensina defesa pessoal a mulheres.

Filha de uma faxineira, Carolina Moraes, de 21 anos, chegou a fazer limpeza com a mãe e ajudá-la a vender roupas e sapatos para se sustentarem. Mas decidiu que teria um futuro diferente. Hoje, trabalha como DJ e estuda Design. E continua brigando pelo reconhecimento e pela igualdade de oportunidades.

“Sou uma mulher negra, pobre, do Capão Redondo. Quebrei o futuro que esperavam para mim e estou adentrando, aos poucos, em um mundo que não foi criado para mim, em que minha família nunca me imaginou: o das artes, da música.”

Aos 18 anos, a estudante Gabrielle Araújo afirma que, diferentemente da mãe e das avós, só terá filhos se um dia se sentir preparada e desejar engravidar. A avó paterna teve nove filhos e dizia às noras que “uma mulher que presta deve ter filhos”. A mãe enxergava o casamento e a gravidez como formas de se libertar do lar repressor.

Gabrielle diz que, apesar do julgamento e da pressão familiar, não tem planos de ter filhos e o seu foco é o vestibular para Arquitetura. “Sei que tenho muitos desafios pela frente. Vou ter de lutar dentro e fora de casa para ser respeitada profissionalmente, conseguir igualdade salarial e não ceder à pressão dos parentes para ter uma família considerada padrão”, conta.

Entre meninos

O desafio da estudante Gabriela Baena, de 16 anos, é diferente. Ao contrário da mãe e das avós, sempre foi incentivada a fazer o que gostava – e se apaixonou pela Matemática, disciplina em que os meninos costumam se destacar. “Sei que a batalha vai ser árdua por querer entrar numa área masculina. Meu esforço terá de ser maior.”

Madalena (nome fictício) tem 14 anos e o sonho de conquistar a independência financeira e emocional. Aluna do 8.º ano de uma escola pública, ela deu aulas de Inglês em 2017 “para poder comprar suas próprias coisas” e não depender de ninguém. A mãe, conta, “não consegue ficar só, precisa de um relacionamento, mesmo que sofra ou apanhe”.

Para Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre a Mulher, da Universidade Federal de Minas Gerais, as jovens sabem que, se não iniciarem a mudança, suas filhas e netas terão o mesmo destino. “Elas querem ter o poder de definir seu próprio projeto de vida.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.