A longa trajetória do piauiense João Paulo dos Reis Velloso (1931-2019) pela economia brasileira ficaria marcada por uma frase mal colocada durante uma entrevista a jornalistas internacionais em 1972. No auge do milagre econômico, Reis Velloso, então ministro do Planejamento do governo de Emilío Garrastazu Médici, disse, sem rodeios, que as empresas internacionais eram bem-vindas para se instalarem aqui. “Podem vir”, disse ele. “Ainda temos muito céu para poluir.”

A frase poderia fazer supor um tecnocrata gélido, mas essa é uma impressão errada. Velloso não é associado ao clima de repressão dos anos de chumbo, mas será lembrado como o planejador visionário que tentou destravar, ainda que no campo institucional, a sempre encrencada infraestrutura brasileira. “Ele era um homem muito amável, fácil no trato, e um dos economistas mais envolvidos com o Brasil”, diz o economista Adroaldo Moura da Silva, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Reis Velloso atuaria na pasta do Planejamento nos governos de Médici e de Ernesto Geisel. Lá, ele coordenou as duas edições do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), a de 1972 e a de 1974, e foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Após sair do governo em 1979, Velloso conseguiu apagar a frase infeliz de sua biografia. Morto na terça-feira 19, aos 87 anos, ele se reinventou como um dos principais pensadores econômicos do Brasil. Em 1988, ele realizou a primeira edição do Fórum Nacional, para discutir estratégias de desenvolvimento. Desde então, todos os anos, economistas e pensadores se reuniam no Rio, em geral no prédio do BNDES, para discutir alternativas para apressar o desenvolvimento que, em geral, contemplavam graus variados de intervenção estatal, na qual o economista jamais perdeu a fé.