Foi pelo consumo que veio a salvação. Sabe-se agora. A retomada da economia está sendo puxada à base de compradores na rua. É o próprio Ministério da Fazenda quem atesta. Ao contrário do imaginado inicialmente, não foram inversões financeiras, investimentos em máquinas e unidades fabris que religaram os motores do crescimento. Está na base da pirâmide econômica a explicação. Não deixa de ser um alento. Se os brasileiros voltaram a gastar é sinal de confiança e de uma certa aposta em dias melhores. Indicadores de queda recorde no desemprego pela primeira vez em três anos e do recuo da inflação ajudaram nesse sentido.

O fato definitivo e alvissareiro: o PIB está de novo e finalmente crescendo após anos de queda. Sair do atoleiro não é tarefa fácil, todos sabem. Nem se dá de maneira rápida. Há, mesmo assim, entre empresários e economistas uma onda de otimismo com o atual cenário. Especialmente diante da queda acentuada dos juros que estimula a procura por crédito para projetos antes engavetados. Esse tipo de expectativa é bem diferente daquela vivida nos últimos anos, quando ninguém enxergava luz no fim do túnel. Há de se comemorar os estímulos que foram dados para a concretização desse quadro.

A liberação de R$ 42,8 bilhões das contas inativas do FGTS, por exemplo, e dos recursos do PIS-Pasep para aposentados com mais de 65 anos foram mecanismos criativos e, sem dúvida, determinantes. O ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, tem outras cartas na manga para angariar recursos e sacudir o mercado. A privatização da Eletrobrás, a licitação de terminais e o leilão de usinas como a Cemig estão entre elas. Não entram na conta de possíveis alentos reformas como a da Previdência, que esbarram nas negociatas do Congresso. Injetar recursos na praça faz parte da estratégia para que as empresas se animem a contratar mais e a investir mais.

Por enquanto, o certo é que os consumidores brasileiros, trilhando um caminho nada convencional, tomaram a dianteira do processo de retomada. Que ninguém, entretanto, se iluda: sem empregos, essa chama tende a se apagar. Apesar da queda nos índices de desocupados, um levantamento do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), publicado pelo Jornal Valor, mostrou uma realidade dramática: em um de cada cinco lares no País ninguém tem renda do trabalho. Isso corresponde ao menos 15,2 milhões de casas com ninguém empregado. Mudar essa situação é o maior dos desafios em voga no momento e dele depende a estabilidade do consumo que foi a alavanca do crescimento.

(Nota publicada na Edição 1034 da Revista Dinheiro)