Se 2016 entrou para a história por causa do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o ano de 2017 será eternamente lembrado pelo dia 17 de maio. Foi nesta data que vieram à tona as bombásticas gravações do empresário Joesley Batista, da JBS, com o presidente Michel Temer. Naquele instante, a crise política se acentuou, o clima empresarial azedou e a economia ficou paralisada. Por pouco tempo, felizmente. O Produto Interno Bruto (PIB) do 2º trimestre superou as expectativas ao registrar uma leve expansão de 0,2% em relação ao trimestre anterior, que havia crescido 1%. “As medidas que adotamos para recolocar o Brasil no caminho do crescimento sustentável começam a mostrar seus efeitos”, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao comentar o índice divulgado pelo IBGE. “O consumo familiar voltou a crescer depois de nove trimestres de retração.”

De fato, o consumo das famílias tem se mostrado o principal motor da economia no curto prazo. Contribuiu para esse movimento a liberação de cerca de R$ 40 bilhões das contas inativas do FGTS. Uma parte dos recursos foi utilizada para quitar dívidas e a outra acabou destinada ao consumo de bens e serviços. “Após dois anos muito ruins no varejo, já vislumbramos uma recuperação no comércio varejista”, diz Flávio Calife, economista da Boa Vista SCPC. “Será um crescimento ainda pequeno neste ano, de até 0,5%.” Essa roda tende a continuar girando por conta da queda dos juros básicos (taxa Selic), que pode chegar ao patamar histórico de 7% ao ano, segundo o economista Antonio Delfim Netto (leia entrevista aqui).

A volta dos clientes: após quatro anos de retração, as concessionárias saem do sufoco (Crédito:Almeida Rocha/Folhapress)

Os juros menores devem chegar, aos poucos, nas linhas de financiamento voltadas para as pessoas físicas. “O papel do crédito vai ser importante para sustentar esse consumo”, diz Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), que prevê uma expansão de 3% no volume de empréstimos às pessoas físicas neste ano. “As famílias estão usando o crédito de forma bem parcimoniosa.” Ao celebrar o PIB do 2º trimestre, o ministro Meirelles destacou que “as empresas estão voltando a contratar”. A maior parte dos empregos, segundo o IBGE, ainda é gerada no mercado informal, mas a tendência é positiva para quem busca um trabalho.

Com o fantasma do desemprego se dissipando, o risco de inadimplência diminui e a confiança dos consumidores aumenta. Trata-se de uma combinação perfeita para diversos setores, como o da indústria automotiva, cujas vendas de automóveis acumulam alta de 6,7% entre janeiro e agosto, após quatro anos consecutivos de retração. “A queda nas taxas de juros e as boas notícias na retração do desemprego fizeram com que a confiança do consumidor aumentasse”, diz Alarico Assumpção Jr., presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Ociosidade elevada: a recuperação do setor industrial terá um longo caminho pela frente (Crédito:Pedro Dias / Ag; Istoé)

A recuperação econômica também é impulsionada pelo setor externo. Há muito tempo que o mundo desenvolvido não apresentava indicadores tão favoráveis. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global deve crescer 3,5% em 2017 e 3,6% em 2018. O Brasil se beneficia desse cenário através das exportações, que acumulam alta de 18,1% entre janeiro e agosto deste ano, em relação ao mesmo período de 2016, totalizando US$ 123,6 bilhões. O saldo da balança comercial será recorde neste ano, superando o patamar dos US$ 60 bilhões. Há, no entanto, um enorme entrave para uma retomada sustentada do crescimento econômico.

Trata-se do baixo nível de investimento, que só retornará quando a crise política se dissipar e quando o governo conseguir aprovar a reforma da Previdência Social, item fundamental no ajuste fiscal. Embora a maioria dos cientistas políticos acredite que o presidente Michel Temer conseguirá concluir o seu mandato até o fim de 2018, há um ingrediente eleitoral que afeta as expectativas futuras. “A eleição será o maior risco do ano que vem”, diz Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos. “O mercado financeiro não precifica a volta de uma agenda econômica que represente um retrocesso.” Esse retrocesso, segundo Buccini, pode vir tanto de um candidato de esquerda, como o ex-presidente Lula, quanto de um candidato de direita, como o deputado federal Jair Bolsonaro.

A aprovação das reformas estruturais é, segundo os especialistas, o melhor caminho para melhorar a trajetória das contas públicas do País. Nesse contexto, é bem-vindo o programa de privatizações do governo Temer, que prevê a venda ou a concessão de 57 ativos. Ajuda as contas públicas e melhora a infraestrutura. Quando se olha para o passado recente, é possível constatar que a crise foi muito grave. Fica claro o impacto que o populismo econômico do governo Dilma Rousseff teve sobre o caixa das companhias. O faturamento das 1.000 maiores empresas, reunidas no anuário da DINHEIRO, cresceu apenas 1,5% em 2016, ritmo bem inferior ao da inflação, que subiu 6,3%. Para quem sobreviveu ao tsunami político e econômico, a hora é de fazer planos e se preparar para surfar a nova onda do crescimento. Isso, é claro, se os políticos e suas malas de dinheiro não atrapalharem.