Se todo o concreto usado no mundo fosse considerado como um país que emite gases de efeito estufa, seria o terceiro mais poluente, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.

– Concreto e cimento: o pior balanço de carbono do setor industrial?

O cimento é o material mais consumido no mundo, cerca de 150 toneladas por segundo: 14 bilhões de metros cúbicos de concreto são utilizados a cada ano, segundo a Global Cement and Concrete Association (GCCA), que reúne os principais atores do setor (a suíça Holcim, a mexicana Ceme, a chinesa CNBM, entre outras). A construção representa 13% do PIB mundial.

A produção de cimento, elemento-chave da mistura de concreto, gera cerca de 7% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), segundo a GCCA, três vezes mais do que o tráfego aéreo.

“É mais do que as emissões da União Europeia ou da Índia, atrás das emissões da China e dos Estados Unidos”, comentou à AFP Valerie Masson-Delmotte, paleoclimatologista e co-presidente de um grupo de especialistas em clima da ONU. Algo que não parece que irá mudar, visto o aumento da urbanização na Ásia e na África.

– Como o cimento produz CO2?

O cimento, a “cola” dos grânulos e da areia que compõem o concreto, é constituído principalmente por clínquer, produto obtido pela calcinação de calcário e argila em um forno a 1.400 graus Celsius. Quando queimado, o calcário libera dióxido de carbono. Produzir uma tonelada de cimento libera quase uma tonelada de CO2.

Essa importante reação química, que quase não mudou desde que a fórmula atual do cimento foi inventada, há duzentos anos, responde por 70% das emissões da indústria. Os 30% restantes são provenientes do consumo de energia dos fornos na queima do calcário.

– Como descarbonizar a construção?

A indústria global do concreto, que anunciou no ano passado a meta de atingir a neutralidade de carbono até 2050, explicou recentemente como reduziria suas emissões em 25% até 2030, evitando a liberação de 5 bilhões de toneladas de CO2 nesse período.

O setor está confiante de que as novas tecnologias de sequestro de carbono permitirão avançar em suas metas de redução de emissões até 2050.

Também tem o compromisso de aumentar a reciclagem e o reaproveitamento do concreto.

Outras pistas passam pela conversão do concreto em um produto “verde”: substituindo os combustíveis fósseis dos fornos de cimento por resíduos e biomassa (farinhas animais, madeira reaproveitada…).

Em termos de captura e armazenamento de carbono, esta indústria planeja instalar “até 2030, 10 estruturas de tamanho industrial para capturar carbono”.

Grandes empresas como a chinesa CNBM (China National Building Material Company) prometeram “desempenhar um papel” na descarbonização da indústria.

Empresas emergentes também querem participar deste projeto: a americana Solidia se propõe a capturar o CO2 e reinjetá-lo no concreto. No Canadá, a CarbonCure já está trabalhando na injeção de CO2 liquefeito.

Mas, acima de tudo, a indústria está comprometida com a comercialização de novos cimentos “verdes” que substituam o clínquer por materiais reutilizados.

A GCCA observa que, no Reino Unido, a taxa de reutilização é de 26%. A França adotou um novo padrão para cimentos de baixo carbono em maio.

– O que é cimento verde? E o cimento de baixa emissão?

Neste momento, estes tipos de produtos estão nas mãos de empresas emergentes, visto que as tradicionais cimenteiras estão atrasadas na modernização dos seus instrumentos de produção, com investimentos mais importantes nas pedreiras.

Uma das empresas que mais progrediu é a francesa Hoffmann Green Cement, que fabrica cimento sem clínquer com base em resíduos industriais, como escória de alto forno, cinza volante de biomassa ou resíduos de argila.

E embora os custos adicionais de construção cheguem a 25 euros (quase 30 dólares) por metro quadrado, esta empresa francesa não para de receber encomendas.

“A indústria de cimento planeja reduzir suas emissões em 2050, mas com nossas propostas, isso pode ser feito hoje”, explica o fundador da Hoffmann Green Cement, Julien Blanchard, à AFP.

O desafio é grande: “Três em cada quatro infraestruturas que veremos em 2050 ainda não foram construídas”, alerta o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres.