O engenheiro Jorge Cury não se conformava com a mesma forma de trabalho adotada na construção civil, com pedreiro chapando massa na parede, espirrando para todo lado, com uso de mangueira sem controle. Essa indignação, segundo ele, foi determinante para a transformação da rotina da construtora e incorporadora Trisul. Com mais de 40 anos de atuação, a companhia paulista apostou na adoção de medidas tecnológicas e sustentáveis, que resultaram na redução de custos e do tempo de conclusão dos empreendimentos. E nem mesmo a pandemia afetou os alicerces da empresa que, depois de lançar oito empreendimentos ao longo de 2020, prevê outros 11 para 2021, quatro deles já em comercialização. “Serão cerca de 1,4 mil unidades no total com valor geral de vendas (VGV) superior a R$ 2 bilhões”, disse o CEO à DINHEIRO.

Com foco nas zonas Sul e Oeste de São Paulo, a Trisul industrializou o canteiro de obras de seus empreendimentos. Inicialmente, as medidas foram adotadas no segmento econômico (R$ 240 mil) e, mais recentemente, nos de médio (R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão em média) e de alto padrão (entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões em média), os focos da companhia. A Trisul comercializa também imóveis de altíssimo padrão, com preços acima de R$ 2 milhões e que podem superar os R$ 6 milhões, dependendo da região. “Os canteiros de obras se assemelham às linha de montagem de uma montadora. As peças das áreas hidráulica e elétrica, por exemplo, já chegam prontas para montar”, afirmou Cury. Nestes casos, a economia chega a 13%.

A empresa investiu ainda na mecanização de processos. Painéis arquitetônicos foram adotados em substituição às fachadas tradicionais de alvenaria. As peças são pré-fabricadas conforme a estrutura do prédio e içadas por gruas, o que não demanda muita mão de obra e agiliza o trabalho. A aposta no drywall — placa de gesso usada em empreendimentos nos Estados Unidos e na Europa – também mostrou-se certeira. O sistema é utilizado na demarcação dos ambientes e, além de já chegar pronto às obras, permite uma construção mais limpa. Enquanto a alvenaria produz cerca de 20% de resíduos, o drywall gera apenas 5%, totalmente recicláveis. “São questões tecnológicas que reduziram o consumo de água, de energia e de mão de obra. Tudo isso encurta o prazo [das obras].”

LINHA DE MONTAGEM Construtora tem economizado até 13% com processo de pré-montagem das peças das áreas hidráulica e elétrica. Kit chega aos canteiros de obras pronto para a instalação. (Crédito:Divulgação)

A eficiência do sistema fica evidente no empreendimento Elev Brás, condomínio com duas torres e 400 apartamentos, onde o prazo para conclusão de algumas intervenções caiu de 24 para 15 meses. “Antes a gente tirava uma laje por semana. Hoje, é feita uma a cada quatro dias ou quase duas por semana.”

A aposta da companhia na agilização dos processos é justificada pelo aumento da demanda por imóveis. Dados do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP) apontam a venda de 5,8 mil unidades novas na cidade em maio. O resultado foi 44,1% superior ao de abril (4 mil) e 144,6% acima do total de 2,4 mil imóveis comercializados no mesmo período de 2020, nos primeiros meses da pandemia. Os negócios foram impulsionados pelos juros mais baixos nos últimos meses (em média entre 6% e 7,5% ao ano) e a oferta de crédito, além do avanço da vacinação contra a Covid-19 no País, o que ajuda no reaquecimento da economia. “Agora, as regras de transição oferecem flexibilização no atendimento. Sem contar que boa parte da população paulista (cerca de 12 milhões de moradores) já tomou a primeira dose da vacina, o que traz mais confiança para retomar os negócios”, disse Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP.

A Trisul está de olho neste crescimento. Com landbank composto por 32 terrenos – e valor total de R$ 5 bilhões -, a incorporadora mantém o planejamento de aquisição média de dez a 12 terrenos por ano. Ao mesmo tempo em que programa o lançamento de ao menos um empreendimento por mês até dezembro, a construtora segue atenta à crise de matérias-primas e insumos na indústria mundial.

Embora destaque que nenhuma das cerca de 20 obras tocadas simultaneamente pela companhia parou sequer um dia por falta de produto, Cury afirmou que o setor de suprimentos “está rebolando” para garantir o abastecimento, além de encarar preços mais altos nos materiais. “Para se ter ideia, estamos trazendo carretas com ferro e de cimento do interior. Estamos varrendo o estado de São Paulo atrás de material”, disse ele, ao lembrar também a escassez de aço, cerâmica e pisos no mercado. “Cada hora é uma situação. No começo do ano foi o cobre”, afirmou. O quadro de abastecimento e de preços, na opinião do executivo, deve se normalizar até o fim do primeiro semestre de 2022. É esperar para ver.