Ao divulgar um lucro líquido recorde de R$ 106 bilhões em 2021, alta de 1.400% em relação ao resultado acumulado de 2020, a Petrobras tornou-se o exemplo mais notável de um grupo crescente: o das companhias abertas brasileiras que divulgaram resultados muito superiores aos do exercício anterior. O lucro da estatal não só foi o maior de sua história, como foi o mais elevado já registrado por uma empresa aberta brasileira, segundo o sistema de informações financeiras Economatica. Mesmo corrigido pela inflação, o segundo lugar é um lucro de R$ 69,8 bilhões, obtido pela própria Petrobras em 2008.

Para os analistas, o ganho robusto da estatal não foi exatamente uma surpresa. “A alta dos preços do petróleo no mercado internacional já fazia prever essa melhora nos resultados”, disse o sócio da gestora independente SFA Investimentos Rafael Chacur. Segundo o analista, as cotações do barril do petróleo do tipo Brent, referencial para a Petrobras, avançaram de US$ 44 no último trimestre de 2020 para cerca de US$ 80 nos três meses finais de 2021.

“A Petrobras mostrou ser capaz de crescer, investir, gerar empregos, pagar tributos e retornar dinheiro aos seus acionistas” General Joaquim Silva e Luna presidente da estatal (Crédito:Divulgação)

Como as ameaças russas à Ucrânia elevaram os preços para US$ 95, esperam-se mais resultados polpudos no primeiro trimestre de 2022. Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, diz que a alta dos preços do petróleo devido ao descompasso entre a oferta e a demanda e às possíveis crises geopolíticas deve beneficiar o fluxo de caixa operacional da Petrobras, e itens não recorrentes devem reforçar sua capacidade de pagamento de proventos. “Seguimos otimistas para o primeiro semestre de 2022”, disse.

 

Para os investidores, o lucro da estatal representa bons dividendos. Junto do resultado, a estatal divulgou na quarta-feira (23) sua intenção de pagar dividendos complementares de R$ 2,86 por ação, tanto ordinária quanto preferencial. “Considerando-se as antecipações de agosto e de dezembro de 2021, a remuneração total aos acionistas em 2021 é equivalente a R$ 7,77 por ação”, informou a empresa. Segundo Chacur, isso representa uma remuneração com dividendos — conhecida pelo nome técnico de “dividend yield” — de cerca de 8% no quarto trimestre e de 23% no ano. O presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna, disse que “a Petrobras mostrou que uma empresa saudável e comprometida com a sociedade é capaz de crescer, investir, gerar empregos, pagar tributos e retornar dinheiro aos seus acionistas”.

LIÇÃO DE CASA O caso da petroleira não é isolado. Os resultados das empresas abertas brasileiras melhoraram muito. Excluindo-se a Petrobras, as 71 companhias listadas em bolsa lucraram R$ 203,6 bilhões em 2021, alta de 89,3% em relação aos R$ 107,6 bilhões de 2020. Quando se considera a estatal, a variação é ainda mais expressiva: o crescimento dos resultados chega a 170% na comparação anual. E nessa conta não entram outros resultados que se antecipam promissores, como o da Vale e da Ambev.
Isso ocorreu por uma mesma causa, a pandemia, que teve dois efeitos. Os resultados ruins de 2020 reduziram a base de comparação e melhoraram o desempenho das empresas em termos relativos. Além disso, a pandemia foi uma motivação excelente para as empresas realizarem uma lição de casa há muito adiada, investindo em corte de custos e ganhos de eficiência.

Uma análise mais detalhada dos resultados mostra isso. Das 71 empresas, 57 mostraram melhora no desempenho. Seja pelo aumento dos lucros, seja pela redução dos prejuízos nos casos de companhias ainda em fase de implementação. Nesse grupo, quatro companhias reverteram seus resultados, saindo do prejuízo para o lucro. E como se espera uma recuperação da economia nos próximos trimestres, a melhora das margens e da última linha dos balanços promete ser duradoura.