Um mundo de novos negócios. Esse é o destino inexorável da indústria diante do imperativo de endereçar esforços para preservar o planeta e garantir qualidade de vida. A uma semana da 24ª Conferência Anual das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas – a Cop 24, que será realizada na Polônia, de 3 a 14 de dezembro – um debate promovido pela DINHEIRO com patrocínio da Confederação Nacional de Indústria (CNI) traçou um cenário bastante otimista quanto ao futuro do setor e de seu papel no desenvolvimento sustentável. O encontro reuniu pesos-pesados da indústria: o CEO da Braskem, Fernado Musa; o CEO global da Votorantim Cimentos, Walter Dissinger; e o gerente-geral de meio ambiente da Arcelormittal Brasil e Guilherme Corrêa Abreu. A CNI foi representada por sua diretora de relações institucionais, Mônica Messemberg. As visões complementares dos quatro debatedores somaram-se em um diagnóstico preciso dos desafios atuais e futuros da sustentabilidade.

Ficou patente que a inovação é o principal vetor para que a indústria possa responder de forma efetiva à pressão demográfica e à consequente necessidade de uso racional dos cada vez mais escassos recursos naturais. Porém, para inovar de forma a obter o mais adequado aproveitamento daquilo que a natureza fornece – água, matérias-primas e fontes de energia – é preciso haver um equilíbrio responsável entre os papéis desempenhados pelo setor produtivo, governos e consumidores. Sem políticas públicas que estimulem a indústria a adotar processos eficazes, evitar desperdício e desenvolver materiais ambientalmente adequados, os resultados ficarão sempre aquém das demandas do consumidor – o verdadeiro protagonista dessa nova revolução industrial ditada pelo clima.

Citando os dados mais recentes sobre as emissões de CO2 na atmosfera, Mônica Messemberg afirmou que o setor industrial é responsável por apenas 7% das taxas de emissão, embora responda por 20% do PIB brasileiro. Ou seja, a indústria não é o grande provocador do problema, mas certamente pode deve contribuir para reduzi-lo. “Como a indústria inclui setores mais avançados no desenvolvimento de pesquisas e tem evoluído muito no sentido de procurar alternativas que sejam economicamente viáveis e condizentes com a estrutura desse setor, a ideia é que a CNI faça o trabalho de universalizar esse conhecimento”, diz Mônica.

Um exemplo prático do desenvolvimento de novas tecnologias para lidar com a escassez de recursos foi apresentado por Guilherme Corrêa Abreu, da ArcelorMittal Brasil. “Com a crise hídrica severa de 2014, precisamos reinventar nossos processos, porque não havia mais água para produzir aço. A escassez nos obrigou a desenvolver planos diretores que revisitaram três grandes pontos: uso eficiente, fontes alternativas e reuso. Esse trabalho possibilitou economias de 35% no consumo de água em todo grupo”, diz Guilherme. A iniciativa foi premiada na categoria Excelência em Sustentabilidade pela Worldsteel Association, entidade que agrega as principais siderúrgicas do mundo.

Integrante do projeto Aquapolo, maior empreendimento para a produção de água de reúso industrial na América do Sul, e pioneira no desenvolvimento de um polietileno verde, o “I’m green”, a Braskem coleciona prêmios tanto em inovação quanto em práticas ambientais. E uma das razões é o entendimento de que o compromisso com a sustentabilidade deve estar não apenas na forma como fábricas operam ou no uso consciente de insumos, mas também nos produtos que a empresa oferece. “O polietileno verde, produzido a partir do etanol de cana-de-açúcar, é um produto 100% renovável que, em vez de emitir CO2 no processo de produção, captura cerca de três toneladas de CO2 por tonelada de polietileno”, afirma Fernando Musa.

O projeto “I’m green” teve início há dez anos, quando a empresa reconheceu que as matérias-primas fósseis teriam, ao longo do tempo, um impacto negativo nas mudanças climáticas. “É um material diferenciado que atrai muita atenção dos clientes para o diálogo com a Braskem”. É também uma resposta à crescente demanda do consumidor por produtos que causem menor dano ambiental – uma pressão que tem condenado itens de consumo antes corriqueiros, como o canudinho plástico, hoje proibido por lei em diversos mercados.

“Nós estamos pensando muito no ciclo de vida do produto”, diz Walter Dissinger, da Votorantim Cimentos. “Como eu posso melhorar o ciclo de vida e minimizar esse impacto dentro da cadeia de valor? Como eu posso criar ecossistemas, junto com outras empresas, para que essa cadeia de valor seja a mais eficiente possível?”. A resposta a essas questões, segundo ele, deverá atender ao desafio lançado pelo consumidor para reduzir, de modo sistêmico, não apenas as emissões como também o uso de recursos naturais, como água e fontes de energia. “Entendemos que o no ciclo de vida do plástico ele será futuramente processado, então criamos produtos que nesse processo necessitem de menos energia, reduzindo a pegada de carbono não apenas na produção, mas para o nosso cliente também”, complementa Fernando Musa.

Para Mônica Messemberg, uma das maneiras de diminuir o impacto ambiental de produtos industrializados é estimular o reúso. “Hoje, a logística reversa é vista pelo empresário como custo. À medida que o resíduo se transforma no insumo de outro processo, ganha um novo enfoque como negócio, que gera receita e passa a se sustentar. Não é só sustentabilidade ambiental, é a sustentabilidade econômica do processo, para que ele perdure”, conclui Mônica.