O que faz duas superpotências mundiais deixarem toda e qualquer desavença política e comercial de lado e se unirem por uma causa? A sobrevivência. Ao firmarem acordo inédito de cooperação “entre si e com o restante do mundo para combater a crise climática e responder com a seriedade e urgência necessárias”, como afirmam em comunicado conjunto assinado na segunda-feira (19), China e Estados Unidos evidenciam que há algo de muito sério acontecendo no planeta.

Uma pista vem da economia, outra da vida. Cientistas do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK) e do Instituto de Pesquisa Mercator para Global Commons e Mudança Climática (MCC) indicam que um aquecimento global de 4°C até 2100 pode fazer com que países temperados percam quase 10% da produção econômica. Nos trópicos, seria mais de 20%.

O prejuízo não é puramente econômico. Caso a temperatura aumente 3°C, um terço das espécies endêmicas que vivem em terra e cerca da metade das espécies endêmicas que vivem no mar enfrentarão a extinção. Além disso, quase a totalidade da vida presente em ilhas estaria sob risco de desaparecer.

A transformação da fauna e flora impactaria ainda mais o ambiente e suas consequências chegariam ao homem. “Confirmamos nossas suspeitas de que espécies endêmicas estariam particularmente ameaçadas pelas mudanças climáticas”, disse Mariana Vale, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que assina o estudo com a também pesquisadora Stella Manes. Para reverter o quadro, só controlando a temperatura do planeta.

CONTRAMÃO Enquanto americanos e chineses adotam a mudança climática como tema prioritário na agenda, o Brasil registra o maior nível de desmatamento na Amazônia Legal para o mês de março dos últimos dez anos. Foram 810 km², área três vezes maior do que a desmatada em março de 2020.

Evandro Rodrigues

(Nota publicada na edição 1219 da Revista Dinheiro)