Apesar da crise que se abateu sobre a economia em 2020, boa parte das companhias abertas foi resiliente o bastante para manter, ou até melhorar, seus resultados. Com isso, os primeiros números que estão sendo divulgados relativos ao acumulado do ano passado mostram um bom desempenho, com crescimento dos lucros apesar da estabilidade ou mesmo do encolhimento das receitas. “Muitas empresas aproveitaram a pandemia para implementar mudanças em seus processos e reduziram custos, melhorando a rentabilidade”, disse o sócio da empresa de análise independente Levante Ideias de Investimentos, Eduardo Guimarães. Para ele, ainda há dúvidas sobre avanço da Covid-19, mas o cenário indica melhora com avanço da vacinação, o que deve favorecer a economia. “Com a vacina tudo volta aos trilhos e várias empresas vão se beneficiar com a retomada da demanda”, disse.

Com isso, a remuneração dos investidores também deve melhorar. A safra de bons resultados promete elevar os proventos, atraindo interesse para as chamadas “ações de viúva”, cujas cotações oscilam menos do que a média do mercado e que dividem generosamente seus lucros. Mesmo com a perspectiva de a taxa referencial Selic iniciar uma trajetória ascendente em março, as estimativas dos especialistas são de que a remuneração dos investidores permanecerá competitiva em relação à rentabilidade da renda fixa.

ELETRICIDADE NO AR, DINHEIRO NO BOLSO O setor elétrico é tradicionalmente um dos que paga os melhores dividendos. (Crédito:Istock)

SETORES Quais as ações mais promissoras? DINHEIRO conversou com cinco analistas e levantou os papéis mais indicados. Os profissionais afirmaram que os setores tradicionais – as prestadoras de serviços públicos como empresas elétricas, de saneamento e telefônicas – permanecem no topo da lista entre as pagadoras. “Muitas suspenderam os pagamentos de dividendos na pandemia e geraram caixa, baixaram dívidas e devem aumentar o retorno”, afirmou Guimarães.

Os bancos, apesar de terem amargado uma queda em suas cotações nos últimos meses, também não saíram da lista de preferências. “E, se não houver muita inadimplência, Itaú, Banco do Brasil e Bradesco sempre serão boas opções”, disse o diretor de renda variável da Valor Investimentos, Pedro Lang. “Mesmo com as mudanças, o setor bancário continua sendo destaque, porque grandes bancos são muito competitivos e não vemos muita ruptura nisso no curto prazo”, afirmou o CEO da BGC Liquidez Corretora, Erminio Lucci.

Os analistas frisam ainda que há algumas recém-chegadas na listas dos serviços públicos, como as empresas de saneamento. A aprovação do marco legal, em julho de 2020, já começou a destravar aportes para o setor. As necessidades imensas na área e a rentabilidade elevada dos investimentos transformaram esses papéis entre os novos “queridinhos das viúvas”.

A seguir, DINHEIRO apresenta avaliações de empresas que prometem pagar os dividendos mais generosos ao longo de 2021. O percentual do dividendo potencial indica o quanto o acionista pode receber em relação ao preço da ação no momento da recomendação. Há duas advertências, porém. Apesar de esses proventos dependerem dos resultados de 2020, a decisão de pagá-los pode mudar dependendo das necessidades da empresa. Os controladores podem decidir reinvestir uma parcela maior dos lucros no próprio negócio, reduzindo a fatia a ser dividida. O outro ponto de atenção é que os proventos podem ser pagos como dividendos ou juros sobre capital próprio. No primeiro caso, o investidor não paga imposto. No segundo, o pagamento é tributado. Para os especialistas, as empresas recomendadas são:

1) Ação: Taesa Unit (TAEE11)
Setor: Energia
Dividendo potencial: 9,6%
Uma das maiores empresas de transmissão de energia, com 13,5 mil quilômetros de linhas em 19 estados brasileiros, a Transmissora Aliança de Energia Elétrica, abreviadamente Taesa, é a principal aposta dos analistas em termos de pagamento de dividendos. Suas 39 concessões são de longo prazo, valendo de 2030 a 2049, e a maior previsibilidade de receitas do setor de energia garante bons rendimentos.

2) Ação: AES Tietê Unit (TIET11)
Setor: Energia
Dividendo potencial: 7,3%
O setor de energia historicamente entrega maiores dividendos. A AES costuma distribuir na forma de proventos uma porcentagem dos lucros (conhecida como payout) acima dos 25%.

3) Ação: Banco do Brasil ON (BBAS3)
Setor: Bancos
Dividendo potencial: 7%
Apesar de toda confusão recente causada pela ingerência do governo nas estatais, o Banco do Brasil continua sendo considerado um bom investimento, tendo registrado um lucro líquido ajustado de R$ 3,7 bilhões no quarto trimestre de 2020, aumento de 6,1% ante o terceiro trimestre, mas baixa de 20,1% em relação a igual período de 2019. O resultado foi influenciado, principalmente, pelo aumento das despesas administrativas e pelas provisões.

4) Ação: Cesp PNB (CESP6)
Setor: Energia
Dividendo potencial: 6,6%
A empresa atua na geração e comercialização de energia elétrica e mantém firme o compromisso com transparência, resultados e com a responsabilidade social. Em janeiro, comunicou que vai distribuir R$ 700 milhões em dividendos obrigatórios e adicionais aos acionistas relativos ao exercício de 2020.

5) Ação: Vale ON (VALE3)
Setor: Mineração
Dividendo potencial: 6,5%
O fechamento do acordo bilionário entre a mineradora Vale e o governo de Minas Gerais, que prevê indenizações totais de R$ 3,68 bilhões para compensar a tragédia ocorrida com rompimento da barragem em Brumadinho, retira uma incerteza da frente, especialmente agora, com a retomada da demanda por minério de ferro elevando as cotações.

6) Ação: Transmissão Paulista PN (TRPL4)
Setor: Energia
Dividendo potencial: 6,3%
Com investimentos passados já amortizados pelas empresas de energia, o retorno sobre o capital definido pelo regulador e a atividade madura dão condições de ganhos estáveis para os acionistas da Transmissão Paulista.

7) Ação: Santander Brasil Unit (SANB11)
Setor: Bancos
Dividendo potencial: 5,7%
A concorrência das empresas de varejo e de tecnologia não impedirá os bancos de se manterem competitivos e rentáveis por muitos anos. Eles têm capital financeiro e humano para se manter competitivo por muitos anos, mesmo sem a agilidade das fintechs.

PROMESSA DE GANHOS Maior banco privado da América Latina, o Itaú está na lista apesar dos resultados menos brilhantes em 2020. (Crédito:Divulgação)

8) Ação: Bradesco PN (BBDC4)
Setor: Bancos
Dividendo potencial: 5,6%
Os resultados do Bradesco foram considerados os mais positivos do setor, com um lucro líquido de R$ 6,8 bilhões nos últimos três meses de 2020, o maior resultado trimestral da história do banco e 2,3% superior ao realizado um ano antes.

9) Ação: CPFL Energia ON (CPFE3)
Setor: Energia
Dividendo potencial: 5,5%
Com mais de 100 anos de história, a empresa atua em geração, distribuição e comercialização de energia, levando eletricidade a 9,9 milhões de clientes. No terceiro trimestre de 2020, o lucro líquido da CPFL Energia de R$ 1,35 bilhão representou crescimento de 80,8% na comparação com o mesmo período de 2019, desempenho que superou as expectativas.

10) Ação: Itaú Unibanco PN (ITUB4)
Setor: Bancos
Dividendo potencial: 5,2%
Entre os bancos privados, o Itaú não teve resultados exatamente ruins em 2020, mas o mercado ficou um pouco decepcionado com o lucro líquido ajustado de R$ 5,38 bilhões no último trimestre de 2020. Isso porque o valor representou uma queda de 26% na comparação anual. Mesmo assim as projeções de dividendos são otimistas.