Quando levantou a mão durante uma reunião da direção da consultoria de recrutamento britânica Michael Page, em 1998, em Paris, o francês Patrick Hollard não imaginava que a sua vida se reorientaria para os trópicos por tanto tempo. Na pauta do encontro, constava a abertura de uma filial no Brasil.  À pergunta de quem queria vir para cá, o braço de Hollard foi o primeiro a ser levantado. “Foi um impulso, sem o menor planejamento”, diz o atual diretor-executivo para a América Latina da Michael Page. Depois de 12 anos no País, Hollard diz não estar arrependido de sua decisão. “Estamos no lugar certo na hora certa”, afirma o executivo, que viu nascer por aqui um de seus quatro filhos. Em 2010, as operações locais da Michael Page, que faturaram R$ 100 milhões, atingiram a terceira posição entre os 34 países em que a empresa está presente. 

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Temos vagas: sob o comando de Patrick Hollard, a operação brasileira da Michael Page
tornou-se a terceira maior do grupo no mundo

Está atrás só de Inglaterra e França. Além disso, o Brasil disputa com a China o posto de região de maior ritmo de crescimento dos negócios, acima de 60% ao ano. “Quem diria, há dez anos,  que estaríamos à frente da Alemanha?” Mas a grande surpresa recente para Hollard tem sido o desempenho da unidade Page Personnel, criada há cinco anos. Apesar de ser uma divisão da Michael Page, ela funciona como se fosse uma empresa diferente, com equipe e escritórios próprios. A empresa-mãe é reconhecida por recrutar executivos da alta e média gerência das empresas, homens que são responsáveis por desenvolver as estratégias das companhias. A Page Personnel, por sua vez, tem como alvo os profissionais operacionais de nível superior. Eles são aquelas pessoas que fazem a empresa funcionar. Em geral, são jovens na faixa etária entre 25 e 32 anos, que ocupam postos de supervisão e baixa gerência, que pagam  entre R$ 2 mil e R$ 7 mil mensalmente.  

No popular, o chão de fábrica, apesar de não serem operários. A nova divisão já representa 30% dos negócios locais da consultoria, acima da média mundial, que é 20%. E o potencial do mercado brasileiro está muito longe de ser exaurido, na visão de Hollard. A sensação, segundo o executivo, é a de ter apenas começado a escavar a superfície de uma mina de ouro. Atualmente, a Page Personnel conta com escritórios em São Paulo, Campinas e no Rio de Janeiro. Mais três serão abertos em 2011, um deles, provavelmente, no Recife. “Neste negócio, é importante estar próximo dos clientes”, diz Hollard. Um dos braços da nova divisão é a Page Talent, divisão que ajuda as empresas a recrutar trainees. São candidatos ainda cursando a graduação ou recém-formados para vagas que pagam entre R$ 2 mil e R$ 4 mil. 

 

Criada no Brasil, a Page Talent já foi exportada para as operações da França e da Inglaterra.Por trás do sucesso da divisão de recrutamento de jovens gestores e técnicos da Michael Page, está um grave problema do Brasil: a falta de profissionais qualificados. “Jovens estão sendo contratados para atuar em posições com responsabilidades acima das suas capacidades”, afirma Carlos Cavalcante, superintendente do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), entidade cujo objetivo é capacitar gestores. De acordo com Cavalcante, a principal demanda reprimida é por profissionais com 10 anos de experiência. A carência é ainda maior de engenheiros. O Brasil tem 750 mil pessoas formadas nessa disciplina. Mas apenas 35% delas atuam na área. 

 

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