Quando era garoto, o empresário gaúcho Rodrigo Krug trabalhava na marcenaria de seu pai, em Candelária, a pouco mais de 180 quilômetros de Porto Alegre. Em meio ao pó de serragem da fábrica, ele construía os seus próprios brinquedos, como um carpinteiro amador. O artesanato o levou a ser apaixonar por automação. Tanto que, aos 15 anos, entrou para um curso técnico de Mecatrônica do Senai. “Peguei gosto pela manufatura, mas achava o trabalho muito manual”, afirma Krug. Em uma visita a uma feira, ele teve contato com uma máquina que construía móveis.

“Isso virou um mantra na minha vida”, diz. De volta à escola, criou uma fresadora que esculpia em madeira. Mais de uma década depois, aos 29 anos, Krug está à frente da Cliever, a primeira empresa brasileira a produzir impressoras 3D, tecnologia que pode revolucionar o modo de produção industrial da forma como conhecemos. Com apenas três anos de operação, a companhia já exporta, em caráter experimental, suas impressoras para Reino Unido, Turquia e Portugal e conquistou clientes como a fabricante brasileira de aviões Embraer, que usa seus modelos para fazer protótipos de peças que utilizará em suas aeronaves.

As impressoras da Cliever produzem peças em alta precisão a partir de filamentos de plásticos e de resina acrílica, mas já existem modelos concorrentes no mercado que moldam peças metálicas. Da mesma forma que uma impressora tradicional, esses equipamentos em terceira dimensão fazem reproduções a partir de um arquivo de computador. A diferença está no resultado: produtos em terceira dimensão, “impressos” com os mais diversos materiais. Em pouco tempo, será como ter uma fábrica particular em sua casa ou na mesa de seu escritório.

Não se trata de um futuro distante. A prototipagem é praticada por 24,6% de mais de cem indústrias internacionais pesquisadas pela consultoria PricewaterhouseCoopers. Mas, em 0,9% das empresas, o sistema já é utilizado para fabricar componentes do produto final. “Nos últimos 20 anos, a impressão 3D era mais usada para prototipagem”, diz Pete Basiliere, analista da consultoria americana Gartner. “O sistema tem, no entanto, sido cada vez mais usado na cadeia de suprimentos, especialmente na área aeroespacial, saúde e indústrias em geral.”

Por essa razão, a tecnologia de impressão 3D já movimenta bilhões de dólares ao redor do mundo. Em 2014, foram US$ 4,1 bilhões, segundo o estudo Wohlers Report 2015. Daqui a quatro anos, a estimativa é que alcance US$ 21 bilhões, uma expansão anual média acima dos 30%. Além da Cliever, existem duas outras empresas brasileiras: a 3D Proccer, de São Paulo, e a 3D Cloner, do Paraná. No mundo, 49 companhias fabricam esse tipo de impressora com aplicações industriais.

Duas delas estão na linha de frente da popularização da tecnologia 3D no mundo. São a americana 3D Systems e a israelense Stratasys, dona da Makerbot, fabricante de impressoras de baixo custo para uso doméstico. “A impressão 3D faz a passagem do design da manufatura para a manufatura do design”, diz Basiliere, da Gartner. “Historicamente as companhias se comprometeram em ter um design ideal de produto para ser eficiente e lucrativo. A impressão 3D permite que as empresas façam o design para fabricar o que os consumidores realmente querem.”

A trajetória da Krug para ganhar espaço no universo 3D não foi das mais fáceis. O empreendedor apresentou seu primeiro protótipo na Campus Party, evento de tecnologia que aconteceu em SP, no fim de 2011. A novidade chamou a atenção da imprensa, que o questionou sobre o preço: chutou R$ 4.500 a unidade, enquanto que o importado era vendido a R$ 60 mil. Hoje, a empresa vende quatro modelos, que variam de R$ 5 mil a R$ 32 mil.

De volta a Porto Alegre, Krug se instalou em 12 metros quadrados da incubadora da PUC. Naquele ano, recebeu a encomenda de 35 máquinas: todas tiveram que ser repostas. “Aprendi da pior maneira que tinha na verdade um projeto, não um produto”, afirma Krug. Aprimorou a máquina com ajuda de engenheiros. No ano passado, recebeu R$ 2 milhões do fundo Criatec 2, formado pelo BNDES e bancos estaduais. Hoje, produz 30 máquinas por mês, mas espera fechar o ano com 50.