A idade já pesa, a força na voz não é mais a mesma, mas o carisma continua intacto. Em Brasília, o presidente cubano Fidel Castro foi o chefe de Estado estrangeiro que mais sobressaiu. Em meio à descontração da cerimônia de posse de Lula, Fidel também abriu mão do protocolo e deu trabalho aos agentes de segurança do Congresso. ?Vim assistir à posse de um amigo?, disse Fidel à DINHEIRO na entrevista em que afirmou que Lula na presidência eleva a importância da América Latina no mundo.

Qual sua expectativa quanto ao governo Lula?
São as melhores possíveis. Estou seguro de que o Lula fará um bom governo. Acho que o Brasil tem riquezas suficientes para ser um país respeitado em todo o mundo. Agora, o País conseguiu o que faltava: um bom governante. A partir desse momento, o Brasil terá um papel fundamental na América Latina.

Qual será esse papel?
Com o governo Lula teremos mais respeito diante do mundo. Temos um sindicalista no governo de um país tão rico e importante quanto o Brasil. Isso me lembra a história de Cuba. Com a revolução rompemos os padrões impostos pela falta de compromisso com o povo. Para mim, a vitória do Lula representa uma revolução na política brasileira. É um exemplo para os países da América Latina.

Como a situação brasileira pode repercutir nesses
outros países?

A América Latina enfrenta hoje a pior crise econômica das últimas décadas. A situação é muito ruim. E Lula, ao contrário de outros líderes latinos, tem legitimidade para representar os países menos desenvolvidos. Ele já era um líder sindical conhecido e reconhecido tanto pelos seus parceiros quanto pelas autoridades muito antes de se tornar presidente. Eu conheci o Lula em 85, durante um encontro sindical, e já naquela época fiquei muito bem impressionado com as suas idéias.

Lula pode conseguir mais créditos para a região?
Hoje, os países pobres estão nas mãos de organismos de créditos que em vez de ajudar pioram a situação. Concedem empréstimos sob condições sufocantes. É o sorriso do diabo e muitos acreditam nele. É preciso ter cuidado. A ordem internacional é sufocante.

Que conselho o sr. daria ao presidente brasileiro?
Estou ansioso para falar com ele. Quero contar sobre os avanços sociais que Cuba tem conquistado. Tenho muito o que mostrar na educação e na saúde.

O que o sr. achou da festa?
O Brasil me surpreendeu. Não esperava encontrar tantas manifestações de apoio ao Lula espalhadas pela cidade. Fiquei realmente assombrado com a comoção nacional. A capital está muito linda. Fiquei tão feliz, que aprendi rápido a fazer a letra L do Lula (gesto com os dedos), da mesma forma que a multidão faz. Não grito o nome do Lula mais alto porque a saúde não deixa. Mas bato palmas todo o tempo. Eu nunca vi um presidente tão feliz. A alegria é dele e da população toda que está nas ruas.