Na sexta-feira (19) comemora-se o dia do empreendedorismo feminino, mas não há muitos motivos para celebrar. As brasileiras somam 52,5% da população, mas essa maioria não é representada na hora de empreender. Segundo o levantamento Fintech Diversity Radar, da empresa de pesquisa americana Findexable, o Brasil é um dos campos mais férteis para as fintechs. Há 1,5 mil delas por aqui. No entanto, apenas 16, pouco mais de 1% do total, foram criadas por mulheres. O cenário não melhora muito na hora de encontrar investidores. Segundo a mesma pesquisa, na média, as mulheres fundaram só 1,5% das fintechs no mundo e o capital de risco sempre teve endereço certo: homens brancos receberam 93% do total.

Para diminuir essa defasagem, as administradoras de empresas Claudia Martinez e Ana Caroline Cunha de Lima, ambas profissionais tarimbadas no mercado de capitais, fundaram a She Invest, uma plataforma de investimentos ponto a ponto, ou do inglês “peer to peer” (P2P), focada em empreendedoras. “Desde 2019, o número de investidoras na bolsa ultrapassou um milhão de pessoas, mas ainda somos 28% do total, com volume financeiro de pouco mais de R$ 100 bilhões”, disse Claudia. As sócias usam seu conhecimento de mercado para avaliar os projetos e ajudar a “empacotar a ideia” das empreendedoras de forma que convença os investidores. “Essas empresas precisam ser geridas por mulheres e ter impacto real na vida das pessoas, com propósito e boa rentabilidade”, disse Ana Caroline.

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O acesso a capital e mentoria faz toda a diferença. Pergunte a Jandaraci Araújo. Para sobreviver a um relacionamento abusivo e com duas filhas para criar, a baiana foi de vendedora de salgados a executiva comercial em grandes redes varejistas, graças à ajuda de um professor universitário carioca que comprava seus quitutes todos os dias na frente da faculdade. “Ele quis saber da minha história e me deu a primeira oportunidade, que eu agarrei com todas as forças”, disse ela. Janda, como é conhecida, fez carreira no supermercado Sendas, permanecendo na área comercial mesmo depois de ser comprado pelo Grupo Pão de Açúcar. Mas ela sabe que seu caso é uma exceção e não a regra. Por isso, ela hoje faz parte da WILL LatAm, uma ONG que ajuda na formação das mulheres para a liderança, com sedes em São Paulo, Nova York e Londres. “Quero ajudar a alavancar outras empreendedoras. Quero ser mentora delas assim como eu tive grandes mentores”. A história está sendo contada em um livro, que deve ser lançado em breve.

DISTÂNCIA O caminho a percorrer é longo. A plataforma de equity crowdfunding Efund Investimentos avaliou 400 empresas para oferecê-las a investidores. Apenas 12 delas, ou 3%, haviam sido fundadas por mulheres ou possuiam executivas na direção. Tamanha defasagem é um desperdício competitivo para o País. “Os investidores valorizam a gestão feminina”, disse o sócio fundador da Efund, Igor Romeiro. Aspectos como mais cuidado no uso dos recursos conquistados e atenção aos detalhes no desenvolvimento da operação são considerados vantagens competitivas. “Buscamos mais mulheres conduzindo os projetos porque a presença delas eleva a eficiência”, disse Romeiro. “Isso é comprovado por vários estudos.” Uma pesquisa do fundo americano de capital de risco First Round Capital mostrou que o desempenho de startups fundadas por mulheres é 63% superior ao das fundadas por homens. E um levantamento do Boston Consulting Group, demonstrou que cada dólar captado por uma fundadora gera 2,5 vezes mais receita do que o recebido por um fundador do gênero masculino.

Segundo as executivas da She Invest, os investimentos na plataforma possuem características e vantagens específicas. “Hoje, o projeto que está aberto é o de uma clínica que oferece rentabilidade de 13,5 % ao ano, para 18 meses, e 14%, para 24 meses. Essa rentabilidade pode ser paga mensalmente ou no fim do período”, disse Ana Carolina. E é possível investir a partir de R$ 1 mil. Neste mês, a She Invest também passa a atuar como plataforma de investimento coletivo, o chamado crowdfunding, em parceria com a plataforma Bloxs, uma das maiores do segmento no Brasil. Tudo, 100% on-line e com a segurança de mercado, regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No segmento P2P, os investimentos são feitos por meio de Cédula de Crédito Bancário (CCB) e a garantia é atrelada ao empreendimento/ativo e aval dos sócios. “Nosso objetivo é mostrar ao mercado negócios relevantes para a sociedade, geridos por mulheres para que eles enxerguem e apóiem”, disse Claudia.