A revolução digital vai acabar com as empresas de papel, certo? Para o presidente da Moleskine Americas, Martin Croteau, o fim da história não é bem esse. Ele comanda a grife italiana famosa por seus caderninhos compactos de papel, que cabem na palma da mão e foram criados para facilitar anotações à moda antiga. O executivo falou com exclusividade à DINHEIRO e detalhou a estratégia de digitalização da empresa e como o País faz parte da estratégia de crescimento da marca para os próximos anos.

Hoje, o Brasil responde por 1% das vendas globais da companhia, que encerrou 2016 com receitas de € 145,2 milhões, cifra 13,3% maior do que a do ano anterior.
O plano é fazer com o Brasil responda por 4% da receita em quatro anos. “Crescer a dois dígitos por ano, como a empresa vem fazendo, vendendo um produto ligado à escrita, em tempos digitais, não é fácil”, afirma Croteau. A estratégia da Moleskine, no entanto, já está escrita. Além de licenciamentos e parcerias com artistas e arquitetos, a marca vem diversificando sua oferta de produtos, com acessórios como capas para iPads, canetas e bolsas, nos últimos dois anos.

Papel hi-tech: a Smart Planner, que digitaliza anotações, é a aposta da marca (Crédito:Divulgação)

Somam-se a isso, a abertura de cafés, que já contam com oito unidades em países da Europa e da Ásia, além de lojas próprias, que reúnem boa parte dos 800 itens da grife. “Somos uma marca de estilo de vida”, diz Croteau. Segundo ele, outra vertente recente é a combinação de produtos analógicos e digitais para atrair millenials, geração nascida após 1980. Isso porque a Moleskine não quer ficar parada no tempo e ser atropelada pelas novas tecnologias, como aconteceu, por exemplo, com a Kodak, que ficou presa aos filmes fotográficos, e a Blockbuster, engolida pela Netflix. “Uma empresa que nasceu analógica não precisa morrer analógica, precisa saber se reiventar”, afirma.

A grande tacada digital da Moleskine é a agenda Smart Planner. À primeira vista, o caderno de capa preta não difere do item mais vendido da marca. Mas é só abri-la para notar pequenos pontilhados nas páginas, que são aplicações de nanotecnologia. Combinada a uma caneta própria, e que traz uma câmera na ponta, o conteúdo escrito no caderno é automaticamente digitalizado, e pode ser enviado, por exemplo, para o Outlook ou Google Calendar. A caneta tem ainda um gravador na ponta, que transcreve gravações e as digitaliza. A novidade deve chegar por aqui em agosto. Não há uma previsão de preço.

Paralelamente, a parceira local da Moleskine, a A.S Fun Gifts, amplia a presença dos produtos nos pontos de venda. Os cadernos e agendas chegarão, em breve, em dez lojas da rede de artigos de escritório Kalunga. O próximo passo é invadir lojas de museus, de presentes e até mesmo as de moda. A abertura de unidades próprias, em aeroportos, também está sendo estudada. As bolsas e as canetas desembarcam por aqui em agosto. “Agora que a marca está olhando estrategicamente para o Brasil e disposta a investir, ninguém nos segura”, diz Ana Simões, da A.S Fun Gifts.