Um duro golpe foi dado contra o Facebook. Ele veio de onde menos se esperava e foi direcionado para onde mais lhe causa dor. Na segunda-feira 12, a companhia de Melon Park foi surpreendida por uma declaração de Keith Weed, diretor de marketing da Unilever. “Não vamos investir em ambientes que não protegem nossas crianças, que criam divisões na sociedade ou que promovam o ódio”, disse Weed. “Vamos priorizar nosso investimento apenas em plataformas que estão comprometidas em criar um impacto positivo para a sociedade.” O executivo da Unilever não mencionou, em nenhum momento, o nome da empresa de Mark Zuckerberg. Mas nem era preciso. Os investidores reagiram imediatamente. As ações caíram 3% após a declaração de Weed. Em valor de mercado, a companhia chegou a perder quase US$ 10 bilhões, ficando avaliada em US$ 503 bilhões. No começo de fevereiro, a cifra girava em torno de US$ 560 bilhões.

A preocupação de Wall Street não era gratuita. Segundo estimativas do mercado, a Unilever investe US$ 8,3 bilhões anualmente em publicidade, o que faz da companhia anglo-holandesa uma das maiores anunciantes do mundo. Desse montante, uma fatia de 24% é destinada aos anúncios em mídias digitais. Para o Facebook, o pior é que a dona das marcas Dove, Omo e Kibon não foi a única a manifestar essa insatisfação. No ano passado, a americana Procter & Gamble, rival da Unilever, cortou US$ 100 milhões em marketing digital em um trimestre e não viu impacto nas vendas. Os dois casos demonstram o calvário pelo qual o Facebook vem passando.

Keith Weed, da Unilever: “Vamos priorizar nosso investimento em plataformas que criem um impacto positivo na sociedade” (Crédito:AP Photo/Jack Dempsey)

A companhia fundada por Zuckerberg está vivendo um inferno astral que ameaça a sua credibilidade e seu modelo de negócio. Tudo por conta da disseminação de notícias falsas por meio da rede social, que se tornou evidente com a eleição presidencial americana que elegeu o republicano Donald Trump, em 2016. Um estudo realizado pela The National Bureau of Economic Research apontou que, somente nos três meses anteriores às votações, artigos fraudulentos favorecendo o candidato republicano foram compartilhados 30 milhões de vezes no Facebook. Derrotada, a democrata Hillary Clinton teve 8 milhões de compartilhamentos de notícias falsas. “Há um sinal claro de que as redes sociais precisam controlar melhor o seu conteúdo”, afirma Marcelo Coutinho, coordenador do mestrado profissional da Fundação Getúlio Vargas. “Ou elas mudam, ou terão problemas’.

A resposta de Zuckerberg à epidemia de notícias falsas parece não ter agradado a ninguém. Em janeiro, o Facebook anunciou que os usuários da rede passariam a visualizar mais conteúdos publicados por amigos e parentes em vez de postagens de páginas de empresas. A decisão enfureceu os produtores de conteúdo da plataforma. No Brasil, o jornal Folha de S.Paulo, foi o primeiro grande veículo do mundo a declarar guerra contra a companhia americana. Menos de um mês depois da mudança do algoritmo, o periódico brasileiro anunciou que não usaria mais a plataforma para compartilhar seu conteúdo digital com seus 5,9 milhões de seguidores. “Preocupa-nos tanto o desprezo pelo jornalismo profissional que a mudança de algoritmo denota, como a abertura para que as fake news proliferem”, afirma Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha. “Se o Facebook mudar o algoritmo de uma maneira satisfatória para o jornalismo profissional, podemos repensar.”

Uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria americana eMarketer acendeu outro sinal de alerta no Facebook. No ano passado, 2,8 milhões de usuários com menos de 25 anos abandonaram a rede social nos Estados Unidos. Outros 2 milhões vão deixar a empresa de Zuckerberg em 2018. Pode parecer um número insignificante, em especial pelo fato de o Facebook ter mais de 2 bilhões de usuários no mundo. Mas indica uma tendência de que os novos consumidores estão preferindo outras plataformas. O grande vencedor nessa disputa, segundo o eMarketer, será o Snapchat, que deverá ganhar 1,9 milhão de novos usuários. Todo ano, Zuckerberg se propõe a cumprir uma meta pessoal. Em 2015, afirmou que leria 25 livros. Em 2016, construiu um sistema de inteligência artificial para sua casa. No ano passado, visitou os 50 Estados americanos. Agora, ele prometeu consertar o Facebook. Não será uma missão fácil, como os primeiros dias de 2018 estão mostrando.