A celeuma política que tomou conta da Petrobras evidencia em praça pública o tamanho do perigo que qualquer companhia, minimamente compromissada com o lucro e o desenvolvimento, tem quando sujeita aos humores desse ou daquele governante. Sempre foi assim, em especial nos momentos de campanha pelas urnas. Mas neste ano, o furor intervencionista do Estado assume ares de uma irresponsabilidade sem tamanho com o inquilino do Planalto pouco, ou quase nada, levando em consideração a credibilidade e saúde da empresa. Ao contrário, em um misto de decisões estabanadas e ideológicas, deixando de lado critérios técnicos e fixando-se exclusivamente no objetivo de usar a estatal em seus planos populistas de poder, Jair Bolsonaro mergulhou numa sucessão de erros que vão da escolha dos candidatos à substituição na presidência da estatal até mesmo às razões que levaram a essa troca abrupta e inexplicável. Os escolhidos não podiam ter sido indicados, por claro conflito de interesses depois demonstrado. Renunciaram ao convite. O mandatário tirou o até então titular da empresa, general Silva e Luna, simplesmente por ele não atender aos seus desejos de interferência nos preços do combustível — que seguem em desabalada carreira devido às interferências e instabilidades externas. O capitão esqueceu, ou deixou deliberadamente de lado, a noção de que não era o general a atrapalhar suas intenções, mas o próprio estatuto da companhia que veda esses abusos. Não interessava. O general virou desafeto por desobedecer suas ordens e foi rifado, mandado humilhantemente da porta para fora, como reclamou. O que veio a seguir foi um show de improviso. O Ministério das Minas e Energia e o da Economia voltaram a bater cabeça. O ministro Paulo Guedes lavou as mãos e repetiu que o problema não era com ele. Que não iria se meter. O colega de Esplanada, ministro Bento Albuquerque, ficou estupefato com os dossiês de desabonos dos nomes tanto para a presidência da empresa como para a do conselho administrativo. Premido pelo tempo, tentou adiar a definição. Com a assembleia de acionistas já com data marcada, na qual a escolha tem de ser firmada, o governo buscou atalhos. Primeiro citou fatiar a reunião geral ordinária dos cotistas convocada para a quarta-feira (13). Depois pensou em optar por uma solução caseira, dentro do corpo diretor. Vale qualquer um para atender aos anseios e caprichos do capitão, agora reduzidos a um mero tapa-buraco. Na prática, é a Petrobras, em primeiro lugar, e a população quem sofre com esses descaminhos provocados lá de cima. O preço das ações, inevitavelmente, despencou. O custo do petróleo segue lá em cima e a única mudança realmente visível ficou sendo a da troca de guarda sem sentido. A Petrobras já desenha os próprios cenários para o fim do imbróglio. Em um deles, Silva e Luna seguiria no gabinete da presidência por mais um tempo. Adiar a Assembleia Geral e retirar a eleição dos conselheiros da pauta são as outras alternativas. Dentro da Petrobras, todos torcem e esperam que desponte para o posto de comando um nome já acostumado e experiente com o regimento interno. Por obra e graça do Messias Bolsonaro foi criado, do nada, um problema que parece longe do final, verdadeiro calvário.

Carlos José Marques Diretor editorial