Ele é fã do malbec argentino, conhece as regiões produtoras mais famosas do Chile, da França, da Espanha e de Portugal. Na Itália, onde chegou a morar por um tempo, percorreu vinícolas de norte a sul. “Não posso dizer que esgotei o mapa da vitivinicultura tradicional, porque há sempre algo a ser descoberto, mas entendi que o mundo do vinho é muito mais vasto e interessante do que imaginava”, diz Marcelo Saraiva, que há 15 anos viaja o mundo em busca de vinhos desconhecidos. Suas aventura o levou a vinhedos e pequenos produtores escondidos por Bulgária, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Grécia, Israel, Líbano, Romênia e Turquia. Em 2019, o que era um hobby se transformou em negócio. Funcionário público federal, com uma carreira voltada para o comércio exterior, Saraiva se licenciou do cargo para abrir a Distintos Wine, importadora dedicada a rótulos desconhecidos. Hoje, 90% dos produtos que importa são de venda exclusiva no Brasil.

ESCALA DIMINUTA “Valorizamos vinhos feitos a partir de uvas regionais, nativas, que traduzem a essência do terroir e da cultura local”, diz Saraiva. “Falar do vinho sem falar da cultura regional é algo muito pobre. Além do terroir, há a ligação daquelas pessoas com o método de produção, com a gastronomia”, afirma. Algumas das uvas cultivadas nesses países exóticos, que permanecem praticamente fora do mapa-múndi do vinho, jamais haviam chegado ao Brasil. “Muitas delas são cultivadas apenas em uma pequena parte do mundo”. E em escala diminuta. Um dos produtores elabora só 5 mil garrafas por ano, sendo que um dos rótulos chega a apenas 1 mil unidades – e 200 delas estão à venda no site da Distintos Wine.

RARIDADES: Saraiva, em um vinhedo, e três dos 90 rótulos que importa. Preços variam de R$ 78 a R$ 983.

 

Trazer essas raridades para o mercado nacional não foi fácil. “O nível de documentação exigido pelo Brasil é muito superior ao de Europa, Ásia e EUA”, afirma Saraiva. “Essa burocracia deixou muitas vinícolas aborrecidas, especialmente as familiares, que não estão acostumadas com tantas exigências.” Isso explica por que são poucos os que se arriscam a importar vinhos assim. No site em que Saraiva vende cerca de 90 rótulos, estão todos classificados por tipo, país e uva. Há fichas técnicas detalhadas, além de dicas de harmonização, incluindo pratos regionais. Um de seus favoritos é o Chateau Belá riesling, da Eslováquia, à venda por R$ 347. “Temos alguns vinhos que chegam a R$ 1 mil, como o Tokaj, mas também há rótulos acessíveis”. Os preços partem de R$ 78.