Falando à DINHEIRO no fim de 2017, Roberto Sallouti, presidente do banco BTG Pactual, comemorava duas coisas. Uma delas era o fim das turbulências provocadas pela prisão do fundador André Esteves. A outra era que, após um dolorido processo de ajustes, que incluiu a venda de ativos não-bancários, o BTG Pactual estava voltando às origens. O banco, disse Sallouti na ocasião, iria se concentrar em gestão de recursos e em operações de banco de investimentos e mercado de capitais.

Na quarta-feira 29, em uma entrevista coletiva convocada às pressas, Sallouti disse que essa estratégia continuava, mas iria mudar. O BTG Pactual anunciou várias novidades. Uma delas foi a unificação de todas as atividades digitais em uma só diretoria, que será assumida pelo executivo israelense Amos Genish. Fundador da empresa de telefonia Global Village Telecom, ou GVT, que depois foi vendida à Vivo, Genish, novo sócio sênior do banco, tem uma longa trajetória no setor de telecomunicações. Após vender sua companhia, ele tornou-se CEO da compradora. Em seguida, chefiou a Tim no Brasil, de onde saiu no fim de 2018.

Roberto Sallouti: “Queremos ser o sexto maior banco de varejo” (Crédito:Divulgação)

Genish vinha sendo sondado para presidir a Oi. No entanto, há pouco menos de dois meses, uma conversa com o velho conhecido Sallouti o levou ao BTG. “Genish é um dos melhores executivos de telecom e o fato de não ter trabalhado no mercado financeiro antes fornecerá um olhar novo”, diz o presidente do banco. A unidade que será comandada pelo israelense vai englobar diversas atividades hoje dispersas pelo grupo. Além da plataforma de distribuição de produtos financeiros BTG Pactual Digital, ela vai oferecer os financiamentos mais populares do Banco Pan, controlado pelo BTG e pela Caixa Econômica Federal, seguros e até crédito para pequenas e médias empresas, algo impensável há pouco tempo. “Queremos ser o sexto maior banco de varejo brasileiro”, diz Sallouti. As mudanças não param por aí. O BTG também vai realizar uma emissão secundária de units que pode chegar a R$ 2 bilhões, para aumentar a liquidez dos papéis, e quer ascender ao Nível 2 de governança corporativa da B3.

O mercado gostou. Na quarta-feira 29, as units do banco fecharam com uma alta de 5,3%. No acumulado do ano, a valorização é de 100,4%. Os investidores não reagiram à volta de Esteves ao noticiário. Na terça-feira 28, a Folha de S. Paulo noticiou que, em uma de suas delações, o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, acuso Esteves de ter dado R$ 5 milhões cobrir custos de campanha de Dilma Rousseff em 2010. Em contrapartida, segundo Palocci, ele seria o “banqueiro do pré-sal”. Esteves e o banco não comentam.