Em outubro de 2018, quando a enóloga Juciane Casagrande Doro e a sommelière Andreia Gentilini Milan colocaram no mercado as 10 mil garrafas de espumantes da marca Amitié (amizade, em francês), o risco de não encontrar compradores estava calculado. “O que não vendesse poderíamos beber com os amigos”, disse Andreia, durante a live de apresentação da nova linha de vinhos da marca, na semana passada. Para felicidade das sócias, as vendas foram um sucesso, assim como o reconhecimento da crítica.

No ano seguinte, a produção saltou para 58 mil garrafas — e a dupla pôde usar parte do estoque para brindar cada prêmio recebido, tanto no Brasil quanto no exterior. Um dos rótulos, o Amitié Cuvée Brut, obteve 91 pontos (em 100 possíveis) no Decanter World Wine Awards 2019, uma das avaliações mais prestigiadas do setor. Foi a maior nota para um competidor brasileiro. Por aqui, ele ganhou Medalha de Ouro no Wines of Brazil Awards 2019. Outros quatro rótulos da linha de espumantes criada a quatro mãos pelas amigas receberam prêmios ao longo do ano passado.

Aí veio a Covid-19. A euforia virou ressaca quando as vendas de espumantes no Brasil desabaram 26%. Era preciso reinventar o negócio que mal acabara de nascer. Foi o que a dupla fez. Enquanto o segmento perdia o gás, a Amitié cresceu 72% (dados do primeiro semestre). Até o final deste ano, a dupla espera vender 100 mil garrafas.

Parte desse volume virá da recém-lançada linha de vinhos tranquilos: o Blanc, o Rosé e o Red, elaborados para a Amitié pela centenária cooperativa São João, que reúne 400 famílias de produtores em Farroupinha (RS). Um detalhe chama a atenção nas garrafas: cada uma traz de brinde um marcador de taças, em seis cores. Um mimo tão criativo quanto útil em tempos de pandemia. Ele é fixado à mão, com cola quente, em uma cápsula plástica sobre o vidro. “Como nem todo mundo entenderia para que serve, foi preciso incluir também uma explicação sobre o gift”, afirmou Juciane.

BRINDES Os três rótulos, recém-lançados, trazem marcadores de taças como “gift”. São vinhos leves, bons de aromas e para beber logo. (Crédito:Divulgação)

POR DO SOL Presentear o consumidor é uma ideia que pode ou não ajudar nas vendas, mas as qualidades dos vinhos aparecem mesmo é na taça. A intensidade aromática se destaca no branco, 100% sauvignon blanc com apenas 11,3% de álcool. No caso do rosé, a uva escolhida foi a merlot, a mais emblemática da Serra Gaúcha, onde há quase 500 hectares da variedade. A cor, mais escura, foge ao padrão “casca de cebola” dos elegantes rosados da Provence, região francesa que consagrou esse estilo de vinho leve o fresco. “A gente optou por um tom acima”, disse Andreia, para quem o vinho “harmoniza com o por do sol”.

De coloração rubi violácea, o pinot noir do rótulo Red traz um marcante aroma de frutas vermelhas e negras. Pensado para ser bebido jovem, ele não estagia em madeira. Mais do que um vinho redondo e elegante, e aponta um caminho inovador para a Serra Gaúcha, onde a uva pinot noir vai quase toda para espumantes. É de apostas assim que o vinho nacional precisa.