Em sua primeira entrevista coletiva para anunciar os resultados do Banco do Brasil, em abril deste ano, Rubem Novaes, presidente da instituição, foi claro em seu alinhamento ideológico. Para ele, o BB “seria mais eficiente se fosse privatizado”. Três meses depois, o banco permanece firmemente sob o controle do Tesouro, mas não há motivos para reclamar da eficiência. No segundo trimestre de 2019, o banco divulgou um lucro líquido de R$ 4,2 bilhões, alta de mais de 35% em relação ao mesmo período de 2018. No acumulado do primeiro semestre, a última linha do balanço mostrou um resultado de R$ 8,2 bilhões, avanço de 39% ante os R$ 5,9 bilhões dos seis primeiros meses do ano passado. “Os empréstimos a pessoas físicas cresceram 2% em relação ao primeiro trimestre e 8% na comparação com o mesmo período do ano passado”, escreveu o analista Jorge Kuri, do banco de investimentos americano Morgan Stanley.

O BB não foi uma exceção à regra. Somados, os quatro maiores bancos do Brasil, lucraram R$ 21,5 bilhões no segundo trimestre, um crescimento de 21% em relação ao mesmo período do ano passado, quando BB, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander lucraram somados, R$ 17,6 bilhões.

Petrobras e BB: os resultados do banco presidido por Rubem Novaes avançaram 35% no trimestre. A petroleira estatal registrou ganhos recordes de R$ 18,9 bilhões (Crédito:Divulgação)

BONANÇA Lucros bilionários não são uma novidade para os bancos. Ano após ano, as instituições financeiras de varejo vêm conseguindo manter seus resultados pujantes apesar dos solavancos da economia. No entanto, o segundo trimestre do ano mostrou que isso deixou de ser um privilégio do sistema financeiro. Segundo um levantamento da empresa de informações financeiras Economatica, as 306 empresas abertas que divulgaram resultados até a terça-feira 20 exibiram bons números. Somadas, essas companhias lucraram R$ 71,5 bilhões no trimestre, alta de 73,4% ante o mesmo período de 2018. Em termos absolutos, o lucro cresceu R$ 30,3 bilhões, apesar de a economia ter crescido muito menos do que isso.

A empresa com o maior lucro do período, no entanto, foi a Petrobras, com ganhos recordes de R$ 18,9 bilhões no trimestre. Parte desse resultado deveu-se a um evento não-recorrente. A companhia recebeu R$ 33,5 bilhões em junho por 90% das ações da Transportadora Associada de Gás (TAG), vendidas para o consórcio belga Engie. Esse negócio impulsionou o resultado. Além disso, o aumento das cotações internacionais do petróleo ante o primeiro trimestre e a valorização do dólar frente ao real também beneficiaram os resultados da companhia. E esse bom desempenho não se limitou à Petrobras. Segundo a Economatica, o setor de petróleo e gás, com nove empresas na bolsa, foi o segundo no ranking de maiores lucros, com ganhos de R$ 20,4 bilhões no trimestre, alta de 83,7% em relação aos R$ 11,1 bilhões no mesmo período do ano passado.

As ações da Petrobras dispararam na quarta-feira 21 devido a declarações do governo de que a privatização da companhia é possível. Independente disso, a estatal está vendendo divisões e negócios, como parte de sua participação na BR Distribuidora, para concentrar recursos e atividades nos ativos de maior retorno, como a exploração das jazidas do pré-sal.

O único setor a apresentar uma piora nos resultados foi o de mineração, devido ao prejuízo da Vale. A mineradora perdeu R$ 384 milhões, ante um lucro de R$ 306 milhões no mesmo período de 2018. A Vale amargou uma perda de R$ 6,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano, devido ao rompimento de uma barragem em Brumadinho, em Minas Gerais, que matou 228 pessoas.

Os analistas esperavam que a empresa voltasse ao azul no trimestre seguinte, mas ela permaneceu no vermelho devido a novas provisões para fazer frente às perdas. Ao anunciar os resultados, Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale, afirmou que o segundo trimestre foi um período de transição. “O rompimento da barragem em Brumadinho ainda está impactando volumes, custos e despesas”, disse ele. “Entretanto, nossa resposta começou a dar frutos para garantir a segurança das pessoas e das operações da companhia, bem como para reduzir incertezas e entregar resultados sustentáveis com um portfólio de produtos de alta qualidade, que já serão refletidos no próximo trimestre.”