As tempestades de neve mais intensas do que as dos anos anteriores causaram transtornos aos participantes do 48º encontro anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Na segunda-feira 22, o trajeto feito de carro de Zurique até os Alpes demorava seis horas, o triplo do tempo habitual, por causa do acumulo de neve de até um metro e meio de altura nas ruas. Muitos convidados chegaram atrasados à sessão de abertura naquela noite. Na manhã da quarta-feira 24, no entanto, a elite econômica assistiu, pontualmente, às 10h25 da manhã (horário local), ao discurso do presidente Michel Temer, que também respondeu a perguntas do anfitrião Klaus Schwab. Após quatro anos ausente do evento, o Brasil voltou a aguçar o apetite estrangeiro.

A fala de Temer ecoou como música nos fones de ouvido dos estrangeiros. Com tradução simultânea, os pesos-pesados das finanças e do mundo dos negócios ouviram o presidente defender uma agenda de reformas que pretende recolocar as contas públicas no azul e aumentar a competitividade do País. “Permitam-me dizer-lhes, sem rodeios e com convicção: completaremos nossa jornada”, afirmou Temer. “O Brasil que vai às urnas em outubro sabe que a responsabilidade dá resultados. Traz equilíbrio das contas, crescimento e empregos. Viabiliza políticas sociais.” O presidente reafirmou a disposição do governo de reunir forças para aprovar a reforma da Previdência Social e, numa segunda etapa, uma proposta de simplificação tributária. “A meta fiscal de 2018, de um rombo de R$ 159 bilhões, é factível diante da volta do crescimento, que gera aumento da arrecadação”, diz Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria e professor do Insper. “Porém, a reforma da Previdência seria fundamental para sinalizar o longo prazo.”

Atratividade: o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse, em Davos, que o Brasil receberá US$ 80 bilhões em investimentos neste ano (Crédito:AFP Photo / Fabrice Coffrini)

Na véspera da abertura do evento, a PwC divulgou uma pesquisa feita com 1.293 CEOs de 85 países, considerada um termômetro do humor empresarial. O levantamento constatou que 57% dos presidentes de empresas apostam que o crescimento da economia global vai acelerar nos próximos 12 meses, quase o dobro do ano anterior (29%). Quando a pergunta é sobre a melhora do faturamento da própria empresa, 97% dos CEOs brasileiros entrevistados afirmam estar “muito confiantes” ou “algo confiantes” – em 2015, no auge da crise, apenas 29% demonstravam o mesmo otimismo. Corroborando o clima positivo em Davos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou, na segunda-feira 22, a previsão de crescimento global de 3,7% para 3,9%, em 2018 e em 2019. Para o Brasil, as estimativas passaram de 1,5% para 1,9% em 2018 e de 2% para 2,1% em 2019.

Requisitado por investidores de vários países, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que “o interesse ainda é muito grande e o Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil tende a crescer”. Em Davos, o ministro estimou que o volume de IED totalizou US$ 75 bilhões em 2017 e projetou um fluxo de US$ 80 bilhões neste ano, apesar das incertezas provocadas pelas eleições. Meirelles, que teve uma agenda recheada de encontros com representantes do setor privado, evitou falar sobre uma possível candidatura à presidente da República, e disse que a sua missão ali era como ministro da Fazenda. Na quarta-feira 24, após reunião com o presidente de operações da Nike, Eric Sprunk, Meirelles celebrou a promessa da multinacional de materiais esportivos de aumentar os investimentos no Brasil.

As concessões e as privatizações estiveram na ponta da língua da comitiva brasileira. Neófito em Davos, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira, disse a investidores que a capitalização da companhia deve levantar entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões, salientando que será uma das maiores operações do mundo, em 2018. Quem também estreou no Fórum Econômico Mundial foi o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que defendeu a política de preservação da Amazônia e respondeu a perguntas sobre a compra de terras por estrangeiros.

Em seu último compromisso na Suíça, antes de retornar ao Brasil, o presidente Temer participou de um concorrido jantar oferecido pelos organizadores do evento, na noite da quarta-feira 24. Temer celebrou o recorde de 83 mil pontos do índice Bovespa e avaliou como positiva a reação dos investidores a suas palavras. “Eu acho que o discurso teve boa repercussão, pelo que eu estou percebendo”, disse aos jornalistas. “E acho que foi muito exitosa a nossa vinda para cá e muito oportuno o encontro aqui, em Davos.” O Brasil ainda não retomou o posto de queridinho do mercado, mas, ao menos, voltou a ser ouvido com atenção.